O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Eu te batizo, Paulo ou Tereza


Antiga Maternidade Cícero Prado. Ficava onde hoje fica a ala nova da Santa Casa de Pindamonhangaba, ou seja, depois da segunda cancela.

Noite gelada a de 13 para 14 de junho. Mas as contrações se tornaram frequentes e a ambulância da Companhia levou Dona Tereza com Seu Francisco para a Santa Casa, para a Maternidade Cícero Prado.
Parto difícil, demorado. A mãe sofria, a criança sofria. Doutor Caio e a Maria José se empenhavam, Dona Tereza forçava. O quinto filho demorava para nascer.
Finalmente, surgiu o topo da cabecinha. Mas o parto não progredia e o coroamento, que não avançava, preocupou a todos naquela sala. A criança nasceria com vida? Dona Tereza, em dores, pedia: ‒ “Batiza a criança!” ‒ e insistia, com medo de que, morrendo sem ser batizada, ela fosse parar na solidão do limbo.
Era o caso de um batismo de emergência. Maria José, experiente, trouxe água num copo e, derramando-a na parte visível da cabecinha, pronunciou as palavras sagradas: ‒ “Eu te batizo, Paulo ou Tereza, em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, amém.”
Mais esforço, mais diligências, a cabeça surgiu por inteiro. E viu-se que era uma bela criança. Mais um pouco, mais força, e eis a criancinha inteira. E viu-se que era Paulo.
Mas não chorava, não respirava. Técnicas de ressuscitação, sem efeito. Dona Tereza se lembrou das dificuldades com o nascimento do terceiro filho, o Pedro, e instruiu o médico: ‒ “Dá uma injeção de coramina, doutor, o meu terceiro também nasceu assim, deu certo, doutor!”
E aplicou-se a injeção, e deu certo, e a criança respirou, e chorou.
No outro dia, ainda na maternidade, Dona Tereza e Seu Francisco conversavam sobre o nome da criança. Ele queria Paulo de Tarso. Ela ponderou que todos os filhos, até ali, tinham nomes de dois santos protetores: Francisco Carlos, Ana Clara, José Pedro e Luiz Gonzaga. Mesmo o primogênito, morto algumas horas após o parto, chamou-se Antônio Gerson.
Por tudo isto, o pequeno Paulo deveria receber mais um nome de santo. Talvez pela proximidade fonética com Tarso, decidiram: Paulo Tarcizio.
E o bebê, tendo nascido rodeado por nomes romanos (Cícero, Caio) e nomes cristãos (Maria, José, Tereza, Francisco), acabou ganhando os nomes de dois romanos cristãos: Paulo e Tarcizio.
O primeiro, em homenagem ao soldado que abraçou o cristianismo sem abdicar da cidadania romana. O único apóstolo que teve a coragem de, na cara, apontar os erros de São Pedro, o dirigente da igreja que se fundava*.
O segundo, lembrando o adolescente que, indo levar as hóstias consagradas para a comunhão dos encarcerados na Prisão Mamertina, sofreu o ataque de ladrões, que supunham ser sua carga secreta um punhado de valiosas moedas. O jovem defendeu até a morte a riqueza verdadeira, muito mais valiosa, e que nunca lhe seria tirada.
Com esses nomes, voltou para Coruputuba, cresceu e foi chutar bola no quintal, tratar das galinhas e apanhar coquinho em volta da capela.
*****
*Gál 2:11-14
Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes


Foto: http://www.pindamonhangaba.sp.gov.br/downloads/coruputuba/Fotos%20de%20Coruputuba/Fotos%20Coruputuba%202.pdf

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