Grupo Escolar Rural Antônio Bicudo Leme
(mais tarde, Martinico Prado)
No final do curso
ginasial, já tinha me decidido a fazer a Escola Normal, queria ser professor.
Por vários motivos, inclusive para imitar meu pai, mas o mais importante mesmo
foi a necessidade econômica: precisava fazer um curso que me desse um emprego
de imediato.
Cursei a Escola Normal,
no Instituto de Educação João Gomes de Araújo, de 1964 a 1966. Na época, eram
poucos os homens que faziam esse curso de magistério primário. Porém, logo no
primeiro dia de aula, descobri que eu não ia ser o bendito é o fruto. Também
o José de Freitas e o José Eduardo Carneiro tinham decidido pela carreira. Na
semana seguinte, juntaram-se a nós o Candinho, filho do Seu Cândido do correio,
e o Welton Cypriano. Nós cinco, no meio de oitenta moças.
Foram três anos muito
bons. O que teve importância mesmo, na minha formação pedagógica, foram as aulas
de Psicologia, com a Professora Maria Luiza Bartholomeu Silva, que nos deu a
base científica do ensinar/aprender, e as aulas de Prática de Ensino, com a
Professora Ignez San Martin de Abreu, que nos ensinou as técnicas de ensino e
como planejar esse ensino.
Mais que isto, devo à
Professora Ignez o entusiasmo pela profissão. Nunca tinha presenciado alguém
falar com tanto carinho sobre o professor primário, sobre o milagre de suas
realizações diárias. Mais tarde, por este grande Vale do Paraíba e em outros
lugares do Estado, tive que ouvir pessoas falando mal da nossa profissão,
fazendo pouco caso, pessoas maldosas, ignorantes... Mas, para mim, eram frases inócuas.
Palavras poderosas foram as que ouvi de Dona Ignez na minha juventude. Essas
palavras, que gravei no coração, marcaram o meu rumo profissional.
Terminei o curso normal
e fui ser professor, na mesma escola em que passei a infância. O Grupo Escolar Rural
Antônio Bicudo Leme, em Coruputuba. Professor substituto, tinha obrigação de
comparecer todos os dias, mas só seria remunerado se, de fato, ministrasse
aula, ou seja, se entrasse em classe para substituir o titular que faltou.
Quando não faltava ninguém, devia permanecer na escola durante duas horas,
ajudando no que fosse possível, na biblioteca, na secretaria, mas sem qualquer
remuneração.
Porém, havia – já
naquele tempo – alguns alunos malcriados, alunos que percebiam que eu era um
novato, faziam pouco caso, debochavam: Professorzinho...
Corrigiam-me: Não é assim que a professora faz. Cochichavam: Não sabe
dar aula... E gargalharam sem dó quando, tentando abrir um armário de porta
emperrada, fiz o móvel balançar e veio para cima de minha cabeça o vaso da
professora, com água, flores e tudo mais, e doeu bastante, o bendito vaso era
pesado... Por tudo isto, comecei minha carreira de professor com muito medo de
dar aula. No caminho para a escola, eu ia pensando: Ah, Meu Deus, tomara que
nenhum professor falte!
E finalmente me foi
atribuída uma classe para o ano inteiro. Uma professora tinha se afastado, em
licença médica. Então foi diferente, já não era um substituto que entrava de
vez em quando numa classe para tapar
buraco. Sentindo-me mais garantido, pude começar a experimentar o meu jeito
de dar aula. Ainda não tinha lido sobre como é fácil e perigoso o professor
calouro começar a dar aulas imitando os seus antigos professores, sem refletir.
Logo, comecei – sem refletir sobre isto – a ensinar meus alunos do terceiro ou
do quarto ano do mesmo modo como os meus professores do primário me ensinaram,
com as mesmas técnicas, as mesmas rotinas. Até as mesmas canções para a fila da
entrada.
Mas era só o começo,
tinha mesmo que ir tateando, procurando meu caminho pedagógico.
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
No livro Aconteceu na Escola, 2012.