quarta-feira, 22 de abril de 2020

As bicicletas da igreja


Na igreja de Coruputuba parece que tinha reza toda noite, ou alguma função sempre acontecia. Reunião das entidades: Congregação Mariana, Vicentinos, Filhas de Maria, Irmandade de São José... ou alguma reza simplesmente, com bênção do Santíssimo.           

Maio era inteirinho uma festa de meninas bonitas, ensaiando, disputando, querendo os lugares de honra na Coroação. Ou coroar mesmo, cantando o solo, ou segurar a bandeja com a coroa, cantando junto com o coro, ao som do harmônio do Maestro João Antonio Romão.

Em volta da igreja, encostadas nos coqueiros, destrancadas, centenas de bicicletas. E eu e o Bosco louquinhos para pedalar sem limites, treinar, voar, sem reprimendas nem horários.      

Acontece que, sim, de dia tínhamos a generosidade meio negociada do primo Valério, que acabava emprestando a bicicleta dele: Olha, só uma volta em volta do campo! Tá bom, duas! Depois é o Bosco.  Também podíamos contar com a complacência do Araújo, sempre com algumas ressalvas: Tudo bem, mas só um pouco, pneu tá meio no osso etc.    

Mas à noite, não! Aquelas bicicletas de adulto, todas engraxadas, polidas, correntes ajustadas, freios em cima! Pneus calibradíssimos. Encostadas nos coqueiros, sem tranca, porque em Coruputuba não tinha quem pegasse coisa dos outros sem pedir.

A gente escolhia. Hoje vou pegar a do Seu Chico Lucio! Ah, e eu vou com a do Seu Camargo! Ah não, vou trocar! Faz tempo que não ando com a do Seu Pedro Moreira! É? Então vou com a do Seu Paulino, que tem farol duplo.       
           
E dali a pouco, estávamos saindo do pátio, às vezes trombando nos coqueiros, 
porque andar devagar é mais difícil do que correr, e pegávamos a estrada da fazenda, voando! Ê vida! Vento no cabelo! Velocidade até o farol ficar tão claro que quase queimava, então a gente diminuía.         

Outra noite, outras escolhas, outras bicicletas. Outros donos, que nunca souberam de nada. E outros trajetos. O Bosco inventava e eu topava: Vamos pra Estaçãozinha! Vamos! Na volta, na volada, derrapei na areia sobre os trilhos e fui parar lá longe. Nem esfolou o joelho. Mas o guidão virou do avesso e o varão do freio escapou.       

Cuidadosamente consertada, a bicicleta voltou para o coqueiro. Era a bicicleta do Seu Antônio Ramos.         

Mas nunca perdemos a hora. Sempre chegamos com tempo para as três últimas ave-marias e para a benção final.        

Claro que meio suados, alguma areia no cabelo, algum dedo esfolado, mas com ar de coroinha carola, dava para cumprimentar os adultos sérios e observar a saída deles nas bicicletas bem conservadas, instrumento do trabalho deles na fábrica.        

Eu e o Bosquinho voltávamos a pé para nossa casa, ali pertinho mesmo. Esperando a reza do dia seguinte.        

Só fomos comprar as nossas bicicletas, nossas de verdade, Monark Barra Dupla Circular, anos depois, no japonês da Loja Bandeirante, com o primeiro salário da AISA. Já sabe, sempre trancadas, não empresta pra ninguém, que o pessoal não toma cuidado.

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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes

quinta-feira, 9 de abril de 2020

Coruputuba no tempo da guerra

 A grande paineira, entre a casa do Seu Rosalah (no fundo) e a Padaria (à direita)



A segunda guerra mundial já tinha começado quando minha família se instalou em Coruputuba, em 1942. Verdade que o Brasil ainda não tinha entrado na guerra, mas já estava começando a sofrer o racionamento de produtos. Filas se formavam na cooperativa e na padaria.

Açúcar refinado era impossível. Seria sorte se papai conseguisse comprar um pouco de açúcar preto, ou um pedaço de rapadura. A fila na cooperativa andava devagar, cada um queria levar para casa um pouco de feijão, de macarrão, o que houvesse. E azeite para a lamparina. Pois o querosene não se achava mais, a produção era toda para a aviação.
Mas Coruputuba tinha essa benção dada pela generosidade do Dr. Cícero Prado: os quintais grandes, com a liberdade de se plantar e criar. Por isso que minha vó dizia: melhor ser pobre na roça do que na cidade. Não faltavam as verduras e legumes na horta, nem o chuchu pelas cercas e as frutas pelo quintal, nem os ovos diários, e os frangos no domingo. E a fazenda garantia o leite para quem fosse cedinho buscar logo após a ordenha das vacas holandesas
E a família ainda era pequena: papai, mamãe, vovó, e os filhos Carlinhos e Ana Clara. Em plena guerra, em 1943, nasceu o Pedro. O Zaga só foi nascer em 1945, quase no final da guerra. E foi a época em que não se achava mais açúcar para nada. Nem para o café com leite, nem para melhorar um bolo de fubá, que ia sem açúcar mesmo, nem para adoçar a mamadeira do bebê. Não adiantava ficar na fila por causa de açúcar. Nada de açúcar, nem do preto, nem do mascavo, nada.
Então, a Dona Naná e o Seu João Mexas, donos da padaria, falaram para meu pai: ‒ Professor, olha, às vezes a gente consegue um carregamento de bala, são umas balas mais baratas, desembrulhadas, a gente guarda para o senhor, vende mais baratinho, vocês podem derreter elas na água fervendo para passar café.
E começou a acontecer assim. O tempo todo, quase que não se bebia café doce. Aí, um belo dia, vinha o Ditinho da padaria avisar que era para alguém ir lá, que tinha chegado bala. Ia o papai e voltava com um belo pacote de balas desembrulhadas, misturadas, que iam para a chaleira no fogão de lenha. Demorava, mas as balas derretiam e dava para passar o café. Ficava um café com um gosto assim misto de morango com hortelã, anis, laranja, coco..., mas todo mundo achava uma delícia.
Minha mãe contava que esta foi a principal lembrança que a guerra deixou para ela. Além daquele pavor de precisar ficar tudo escuro de noite.
É que a Companhia deu essa ordem: tudo apagado. Não podia ficar nada aceso, nem lamparina, nem vela, porque as casas não tinham forro, podia a luz da vela aparecer pelo vãozinho das telhas, e passar um avião alemão, ver e bombardear.
Bom. Não é que o avião alemão fosse bombardear as pobres casas da Vila Tanque, onde minha família morava, vizinhos do Seu Alcides Sampaio. A pobre Vila Tanque, a vila dos Franciscos: o meu pai, que era o professor Francisco, e o seu Francisco Casemiro, ou seu Chico Lúcio, o seu Francisco Nogueira, o Seu Francisco Machado... Mas, pelas luzes de qualquer das vilas, o inimigo poderia localizar o grande complexo industrial que era, naquele tempo, a fábrica de papel da Companhia Cícero Prado.
Sim, porque naquele tempo, as bombas alemãs estavam levando o terror, o choro e o desespero a vários pontos desse nosso tão bonito planeta. E o Brasil, finalmente, tinha entrado na guerra contra eles.


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Texto: Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto: Coleção Paulo Tarcizio da Silva Marcondes

quinta-feira, 2 de abril de 2020

AS ESTRELAS



Narração de um pastor provençal




Conto de ALPHONSE DAUDET 
Tradução de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes




No tempo em que vigiava os rebanhos no alto do Luberon[i], acontecia de passar semanas inteiras sem ver ninguém, sozinho nas pastagens com meu cão Labri[ii] e minhas ovelhas. De tempos em tempos, o eremita do Mont-de-l’Ure[iii] passava por lá procurando símplices[iv] ou então eu via o rosto enegrecido de algum trabalhador da mina de carvão do Piémont; mas eram pessoas simples, silenciosas por causa da solidão, tendo perdido o gosto de conversar e não sabendo nada do que se falava nas cidades e nas vilas. Por isto, a cada quinze dias, quando eu ouvia, no caminho que sobe, os chocalhos da mula da nossa fazenda trazendo as provisões da quinzena, e eu via aparecer pouco a pouco, acima do barranco, a cabeça atenta do nosso pequeno ajudante, ou a boina vermelha da velha tia Norade, eu ficava verdadeiramente muito feliz. Queriam me contar as novidades lá de baixo, os batismos, os casamentos; mas o que me interessava de fato, era saber o que acontecia com a filha dos meus patrões, nossa senhorita Stéphanette, a mais bela que havia em dez léguas em torno. Sem deixar transparecer demais o meu interesse, eu me informava se ela ia muito às festas, aos saraus, se apareceram a ela novos pretendentes; e aos que me perguntavam o que essas coisas poderiam interessar a mim, pobre pastor da montanha, respondia que eu tinha vinte anos e que essa Stéphanette era o que eu tinha visto de mais belo em toda minha vida.
Ora, num domingo em que eu estava esperando os víveres da quinzena, aconteceu que eles não chegaram e já estava ficando tarde. De manhã, eu me disse: “É por causa da missa solene”; depois, perto do meio-dia, veio uma grande tempestade, e pensei que a mula não se pôs a caminho por causa do mau estado dos caminhos. Enfim, ali pelas três, o céu estando lavado, a montanha luminosa de água e de sol, ouvi, no meio do gotejamento das folhas e do transbordamento dos córregos inflados, os chocalhos da mula, tão alegres, tão sonoros como um grande carrilhão de sinos em dia de Páscoa. Mas não era o pequeno ajudante, nem a velha Norade quem a conduzia. Era, adivinha quem!... nossa senhorita, meus meninos! nossa senhorita em pessoa, sentadinha muito ereta entre os sacos de vime, toda rosada pelo ar das montanhas, pela friagem da tempestade!
O ajudante estava doente, e a tia Norade em férias com suas crianças. A bela Stéphanette foi me contando, enquanto descia da mula, e além disso ela chegou tarde porque se perdeu na estrada; mas ao vê-la tão bem endomingada com suas fitas e flores, a saia brilhante e suas rendas, ela tinha mais o ar de ter se atrasado em alguma dança do que de ter procurado seu caminho no meio do mato. Oh a pequena criatura! Meus olhos não podiam deixar de olhá-la! É verdade que jamais eu a tinha visto de tão perto. Algum dia de inverno, quando os rebanhos já tinham descido nos apriscos  e eu entrava à tarde na casa da fazenda para tomar a sopa, ela atravessava a sala vivamente, sem falar nada aos serviçais, sempre arrumada e um pouco orgulhosa. E agora eu a tinha ali diante de mim, apenas para mim; não era de perder a cabeça?
Quando tirou as provisões da cesta, Stéphanette se pôs a olhar curiosamente em redor. Erguendo um pouco sua bela saia de domingo, que poderia se danificar, ela entrou no abrigo, querendo ver o canto em que eu dormia, o leito de palha com pele de carneiro, minha grande capa pendurada na parede, meu cajado, minha espingarda. Tudo aquilo a divertia.
“Então, é aqui que você vive, meu pobre pastor? Como você deve enjoar de ficar sempre sozinho! O que é que você faz? No que você pensa?”
Eu queria responder: “Em você, senhorita” e não estaria mentindo; Mas minha atrapalhação era tão grande que não pude falar uma só palavra. E creio bem que ela percebeu, e que a malvada sentiu prazer em redobrar meu embaraço com sua malícia...
E ela mesmo, ao me falar, tinha bem o ar da fada Estérelle[v], com  o belo sorriso, a cabecinha inclinada e uma ansiedade em se ir, o que fazia de sua visita uma aparição.
‒ Adeus, pastor.
‒ Saúde, senhorita.
E ei-la que partiu, levando as cestas vazias.
Quando desapareceu no caminho inclinado, pareceu-me que os cascalhos, rolando sob os cascos da mula, tombavam um a um sobre o meu coração. Eu os ouvi por muito tempo, muito tempo; e até o final do dia, fiquei como sonâmbulo, não ousando me mover, de medo de espantar o meu sonho. Quase noite, quando o fundo dos vales foi se azulando e as ovelhas, balindo, se empurravam umas contra as outras para reentrar no abrigo, ouvi que me chamavam lá de baixo, e vi aparecer a nossa senhorita, não risonha como ainda há pouco, mas trêmula de frio e de pavor, toda encharcada. Parece que no fundo da colina ela encontrou o Sorgue[vi] engrossado pela chuva da tempestade, e, tentando forçar a travessia, ela tinha corrido o risco de se afogar. O terrível, é que àquela hora da noite não se podia pensar em retorno à fazenda; pois o caminho para a travessia nossa senhorita não conseguiria jamais encontrar sozinha, e eu não podia abandonar o rebanho. Essa ideia de passar a noite na montanha a atormentava muito, sobretudo por causa da inquietude da família. Eu procurei tranquilizá-la da melhor maneira que podia:
‒ Em julho, as noites são curtas, senhorita... É apenas um momento ruim.
E acendi depressa uma grande fogueira para secar seus pés e seu vestido, encharcado da água do Sorgue. Depois, coloquei diante dela leite, queijo; mas a pobre pequena não pensava nem em se aquecer, nem em se alimentar, e de ver as grossas lágrimas que desciam de seus olhos, eu também estava a ponto de chorar.
No entanto, a noite chegou completamente. Não restou sobre a crista das montanhas mais que uma poeira de sol, um vapor de luz do lado do poente. Eu quis que nossa senhorita entrasse para repousar no abrigo. Tendo estendido sobre a palha fresca uma bonita pele bem nova, eu lhe desejei boa noite, e fui me assentar fora, diante da porta... De repente, a cortina do abrigo se abriu e a bela Stéphanette apareceu. Ela não podia dormir. As ovelhas faziam ranger a palha ao se mover, ou balindo em seus sonhos. Ela achou melhor vir para perto do fogo. Diante disso, joguei minha pele de cabra sobre seus ombros, aticei as chamas, e ficamos sentados juntos, sem conversar. Se você já passou a noite sob as estrelas[vii], você sabe que, quando dormimos, um mundo misterioso desperta na solidão e no silêncio. É então que as fontes cantam muito mais claramente, e os charcos acendem pequenas chamas. Todos os espíritos da montanha vão e vêm livremente; e há no ar das pastagens ruídos imperceptíveis, como se estivéssemos ouvindo os ramos crescendo, a erva brotando. O dia, é a vida dos seres; mas a noite, é a vida das coisas. Quando não se está acostumado, dá medo... Por isto, nossa senhorita estava toda trêmula, e se apertava contra mim ao menor ruído. Uma vez, um grito longo, melancólico, partiu da lagoa que brilhava mais abaixo e subiu até nós, ondulando. No mesmo instante uma bela estrela cadente deslizou por sobre nossas cabeças, como se aquele lamento que acabávamos de ouvir estivesse portando uma luz.
‒ O que que é isso? me perguntou Stéphanette em voz baixa.
‒ Uma alma que entrou no paraíso, senhorita; e fiz o sinal da cruz.
Ela se benzeu também, e ficou um momento com a cabeça baixa, contrita. Depois me disse:
‒ Então é verdade, pastor, que vocês são feiticeiros, vocês pastores?
‒ De jeito nenhum, nossa senhorita. Mas aqui nós vivemos mais perto das estrelas, e nós sabemos o que acontece melhor que as pessoas lá de baixo.
Ela ainda estava olhando para cima, o queixo apoiado nas mãos, envolvida na pele de carneiro, como um pequeno pastor celeste:
‒ Mas são tantas estrelas! Que lindo! Nunca eu tinha visto tantas... Será que você sabe os nomes delas, pastor?
‒ Mas sim, senhorita... Quer ver! bem acima de nós, lá está o Caminho de São Tiago[viii] (a Via Láctea). Ele vai da França direto para a Espanha. Foi São Tiago da Galícia que o traçou para mostrar a rota ao bravo Carlos Magno quando ele guerreava contra os Sarracenos[ix]. Mais longe, você tem a Carreta das Almas (a Ursa Maior) com seus quatro eixos resplandecentes. As três estrelas que vão na frente são as Três Bestas, e aquela menorzinha perto da terceira é o Carreteiro. Você vê em redor disso tudo aquela chuva de estrelas que caem? são as almas que o bom Deus não quer perto dele... Um pouco mais abaixo, o Rastelo ou os Três Reis (Orion). É o que serve de relógio para nós pastores. Só de olhar para eles, eu sei que agora passa um minuto da meia noite. Um pouco mais baixo, sempre na direção sul, brilha Jean de Milan, a tocha dos astros (Sirius)[x]. Sobre essa estrela, eis o que os pastores contam. Parece que uma noite Jean de Milan, com os Três Reis e o Sete-Estrelo (a Plêiade) foram convidados para o casamento de uma estrela de seus amigos. O Sete-Estrelo (Plêiade), mais apressado, se diz, saiu primeiro e tomou o caminho mais alto. Olhe lá, lá no alto, bem no fundo do céu. Os Três Reis cortaram por baixo e o alcançaram. Mas este preguiçoso do Jean de Milan, que dormiu até tarde, ficou completamente para trás, e furioso, para atingi-los, atirou neles o seu bastão. É por isso que os Três Reis se chamam assim de Bastão de Jean de Milan[xi]...  Mas a mais bela de todas as estrelas, senhorita, é a nossa, é a Estrela do Pastor[xii] que nos ilumina na alvorada quando tiramos o rebanho, e também ao entardecer quando o trazemos de volta. Nós a chamamos ainda de Maguelonne, a bela Maguelonne que corre atrás de Pierre de Provence (Saturno) e se casa com ele a cada sete anos[xiii].
‒ Mas como! pastor, então existe casamento de estrelas?
‒ Mas sim, senhorita!
E quando eu estava começando a lhe explicar o que eram esses casamentos, senti alguma coisa fresca e leve pesar ligeiramente sobre meu ombro. Era a sua cabecinha pesada de sono que se apoiava em mim com um bom farfalhar de fitas, rendas e cabelos ondulados. Ela permaneceu assim, sem se mover, até o momento em que os astros do céu empalideciam, apagados pelo dia nascente. Quanto a mim, eu a olhava dormindo, um pouco confuso no fundo do meu ser, mas santamente protegido por aquela clara noite, que não me deu mais do que belos pensamentos. Ao redor de nós, as estrelas continuavam sua marcha silenciosa, dóceis como um grande rebanho; e por momentos me figurava que uma daquelas estrelas, justamente a mais preciosa e mais brilhante, tendo perdido sua rota, tinha vindo pousar sobre meu ombro para dormir...


Conto de Alphonse Daudet (1840‒1897)
no livro Lettres de Mon Moulin
Tradução de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Todos os direitos reservados 



[i] Luberon : cadeia montanhosa da Provença. No verão, os criadores mantém os rebanhos nas pastagens altas, descendo-os para o vale antes do inverno.
[ii] Labri : nome que se dá, na Provença, a uma raça de cães de pastor, geralmente de cor negra.
[iii] Mont-de-l’Ure : cadeia montanhosa entre Sisteron e Ventoux. Notre-Dame de Lure, velha abadia dos Agostinhos, é um lugar de peregrinação muito frequentado.
[iv] Símplices : ervas medicinais
[v] A fada Estérelle habitaria as montanhas de l’Esterel, às quais ela dá seu nome.
[vi] Sorgue : afluente do Rhône
[vii] Ao relento : a expressão idiomática para este sentido é belíssima: “passer la nuit à la belle étoile” (nota do tradutor)
[viii] Caminho de Santiago: a Via Láctea, que orienta os peregrinos no rumo de São Tiago de Compostela.
[ix] Todos esses detalhes de astronomia popular são traduzidos do Almanaque Provençal que se publica em Avignon (nota do autor).
[x] Sírius é a estrela mais brilhante que se vê a olho nu.
[xi] Bastão de Jean de Milan, ou Bastão de Orion
[xii] A Estrela do Pastor (Vênus) não é uma estrela, mas um planeta
[xiii] Esta história se encontra em um velho romance atribuído a Bernard de Tréviers, cônego. O casamento de Maguelonne com Pierre de Provence traduz misticamente a conjunção, que ocorre a cada sete anos, dos planetas Vênus e Saturno.