quinta-feira, 21 de julho de 2011

No centro da cidade




Nesta cidade de ruas direcionadas para os pontos cardeais, o sol obriga todo mundo a andar numa calçada de manhã e na outra à tarde.

Ao meio dia não tem salvação, todos procuram caminhar na estreita faixa de sombra sob as marquises.

Quando é inverno, o sol passando baixinho no lado norte, as sombras são compridas, faz friozinho mesmo durante o dia, tudo fica colorido, o ar é gostoso de respirar.

Penso nisto enquanto atravesso a Deputado Claro César para buscar do outro lado a calçada com sombra.

Passei por essas ruas quantas vezes? Onde ficaram meus vestígios? Nas vitrines onde, de esguelha e de passagem, eu espiava o meu reflexo de adolescente, preocupado com a aparência?

Sempre lépido e apressado, eu era assim.

Depois, as décadas se acumularam, fui perdendo a leveza da caminhada. Hoje, às vezes, andar é uma tarefa.

Mas, de repente, passando pelas Pernambucanas, ah, levanto a cabeça! Contemplo – entre os perfis da Matriz e do Museu – a Mantiqueira azul por trás do Bosque.


Encho os pulmões: é como se ouvisse o Hino: “Salve ó terra querida...” E vou de cabeça erguida, alargo os passos, mantenho o ritmo. Sou de novo um aluno do ginásio, e estou num desfile, garboso, jovial.

Nem reparo, não ligo. Mas sei que em todas as vitrines, de esguelha, sou olhado por um senhor meio gordinho, cabelos grisalhos, apressadinho.


 * * *
Texto de PAULO TARCIZIO DA SILVA MARCONDES
A segunda foto pertence ao autor do texto. Ah, mas pode usar, está tão bonita. Só lembrar de dizer que é a Serra da Mantiqueira, vista de Pindamonhangaba.



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