quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Não gosto que falem mal de vocês


Fico triste quando falam mal de vocês. Às vezes nem tenho argumentos para defender vocês, para fazer as pessoas pararem de falar mal.

O que posso fazer? Ninguém vai me convencer a parar de gostar de vocês. Convivemos tão de perto há tanto tempo! Aprendi com vocês a gostar da vida, a gostar do mundo, a amar a natureza!

Foi perto de vocês que tive as primeiras lições da brisa leve, do perfume das folhas, do cheiro de mato úmido...

Mas vocês me ensinaram também a ter medo do vendaval, vocês repetiam para mim os insultos e as ameaças do vento forte. Nestas lições às vezes vocês se feriam gravemente e fui entendendo que se fere menos quem aprende a ser flexível, como alguns de vocês.

Os sons dos insetos, os milhões de zumbidos no calor do meio-dia, foi na companhia de vocês que fui aprendendo.

Vocês me deram abrigo, vocês me deram o calor dentro da minha casa da infância. Como não gostar de vocês, meus amigos?

Admito que não tenho mesmo muita simpatia por vocês quando estão perfeitamente alinhados, jovens, obedientes como recrutas. Verdes, verdes, subindo e descendo os morros, enchendo os vales, todos tão esguios, mas tão juntinhos que nem deixam crescer o capim entre as fileiras...

Minha devoção eterna vai para os anciãos entre vocês. Feridos pelas queimadas, alguns dos mais velhos acabam tombando. Os que permanecem, no entanto, fortes e poderosos, têm a delicadeza de abrigar os pássaros, dar apoio às orquídeas.

 Não gosto que falem mal de vocês, meus amigos eucaliptos.

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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes

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