Era
um compromisso de infância, que ainda não cumpri e ninguém vai aparecer para me
cobrar, para questionar. Compromisso
com os canudinhos verdes do milho, brotando no chão molhado da chuva da véspera.
Compromisso com aquele
sol bonito, amarelo, de
manhãzinha cedo, quando tudo
tem um cheiro gostoso, um
cheiro manso de mato, de flor de capim.
Compromisso
de levantar cedo e sair para a roça,
depois de tomar café. E, antes de chegar na roça, gastar um tempão escutando os
passarinhos na paineira, depois
olhando, inocente, o
jeito que a galinha choca faz pra chamar os pintinhos, e o jeito que os pintinhos correm, e a cara do cachorro, meio
contente, que
não sabe se é para ficar parado ou se é para ir correndo adiante...
A
vida inteira fico sonhando que um dia estou vendo os meus bois no
pasto. Enquanto não tenho os bois, nem
terra para eles ficarem, fico vendo o quê? Fico vendo o capim crescendo nos
lotes vazios e nos quintais largados. Reparo que o capim cresce
depressa.
Mas
não dá tempo de mudar a
vida e arranjar os bois. Então, alguém vem e corta o capim, ou
limpa de vez o lote e
constrói um prédio naquele chão que tinha sido verde. E não deu tempo de eu arranjar os
bois, nem a terra, nem
tempo para sonhar isso direito.
Mas
não faz mal. Num cantinho da cabeça, ou do coração, os meus boizinhos estão ficando muito
gordos e lindos e
eu estou encostado na cerca de um curral
que não existe e
estou feliz, reparando no jeito que eles vão pastando.
Faz
muito tempo que eu saí da roça. Mas sempre penso que um dia vou limpar um pedaço de chão, afofar
a terra e ficar
esperando as chuvas de setembro para plantar milho – e
lanço também umas sementes de feijão-fava,
que vai crescer enroscado no pé de milho.
Faz
muitos anos que todo ano o meu coração começa a bater diferente quando o frio vai acabando
e começa a esquentar. Nesses
anos todos, me
dá uma espécie de
ansiedade quando escuto as primeiras trovoadas. Mas as chuvas vêm e passam e não plantei o milho. Então, fico olhando pelo vitrô o cimento
da calçada e as paredes sujas do outro lado da rua.
Meu
Deus, quanto milho que já brotou, cresceu, secou – e eu não vi. E as árvores que a gente não
plantou, se a gente tivesse plantado, elas haviam de estar altas, fortes... Ah!
E a vida passa! Se
um dia a gente plantar uma árvore, acho que não vai dar tempo de ver
crescer. E as águas que choveram
nesses anos todos, elas iam dar para encher o açude que eu não
fiz.
As
águas já
escorreram, foi tudo embora.
* * *
Texto
de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
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