sexta-feira, 23 de maio de 2014

Coroação de Nossa Senhora em Coruputuba



Coroação de Nossa Senhora Aparecida em Coruputuba! Cerimônia comovente, soleníssima, encerrando as festividades do mês de maio. A linda e pequena capela, que já tinha ficado lotada nos domingos anteriores, transbordava de coruputubenses no último domingo. Todas as luzes acesas, o perfume do incenso flutuando, em transparente névoa azulada. No coro, o maestro João Antonio Romão tocava o harmônio. Sobre o altar, colocadas numa espécie de pódium, as Meninas de Coruputuba, vestidas de túnicas brancas, rosas, azuis. No topo do pódium, a imagem de Nossa Senhora colocada entre duas Meninas: a que ia fazer o papel principal, de realmente coroar a santa, e a sua, digamos, ajudante, ou assistente: a que ficava segurando o pratinho com a coroa.
A Menina Principal cantava sozinha um trecho da música, enquanto colocava a coroa na imagem. Era o momento culminante. O povo prendia a respiração diante daquele quadro: a Menina Principal cantando sozinha, acompanhada apenas pelo harmônio.
Todas tinham cantado juntas a primeira parte da música: “Hinos e flores nesse dia / viemos aqui pra te ofertar / cheias de amor e de alegria / viemos aqui te coroar”
Então a Menina Principal, como solista, cantava levantando a coroa: “Aceita ó Mãe esta coroa, em que nos toma o penhor / daquela que um dia na gloria / nos está guardando / teu amor”
E colocava a coroa na cabeça da imagem, enquanto as outras Meninas cantavam: “Nós somos filhas tão amadas / da pura mãe do Redentor / quem poderá conter a chama / quando no peito arde o amor?”
Momentos celestiais, em que as jovens vozes femininas flutuavam pela capela, junto com o aroma do incenso.
Tudo muito lindo. Só que, para conquistar o papel de Menina Principal, todo ano acontecia, secretamente, uma guerra cheia de lances altos e baixos, de segredinhos entre as meninas, entre as catequistas, as moças do coro, as mães das meninas. Acho que só o padre que não se envolvia. Todas falavam mal de todas, todas criticavam todas.
Uma vez, minha irmã Auxiliadora, depois de tanta confusão nos ensaios, tantos boatos sobre a provável vencedora, finalmente foi escolhida: ela é que ia levantar bem alto a coroa, ela que ia cantar sozinha o trecho principal da música, ela que ia coroar Nossa Senhora! Isto, para despeito de todas as amiguinhas e suas famílias. Uma porção de gente começou a virar a cara.
No sábado, ensaio final. Fui assistir. Estava perfeito. Minha irmã cantou divinamente. No domingo, ela amanheceu completamente rouca, até com um pouco de febre. A voz não saía mesmo. Não teve jeito. Quem coroou foi a Segunda Menina, subitamente promovida a Primeira Menina e solista.
Na segunda-feira minha irmã já estava de novo com a voz normal.

***
Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto: Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina. Visível no site da Prefeitura: www.pindamonhangaba.sp.gov.br
no link Centenário de Coruputuba.

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