Quem pergunta isto para
alguém que acabou de conhecer está de fato querendo dizer outras coisas.
Pode ser que a intenção
seja puríssima: apenas saber quais são os parentes do novo conhecido, para ver
se dá para aprofundar um bate-papo sobre os velhos tempos, os costumes de
outrora. Quem sabe, descobrem que são parentes entre si, que habitavam no mesmo
bairro em outras épocas...
Mas, dependendo da
situação e do tom de voz, algumas vezes quem pergunta “de que família você é”
está querendo significar: Eu sou de família boa, vamos ver você!
E família boa, para
algumas dessas especulas, significa gente branca e “importante”. Ou seja, os
mandões da política e dos negócios, sempre de bem com o poder religioso e, de
preferência, tendo um antepassado titular do império ou quase.
Conceitos que já deviam
ter acabado com a Revolução Francesa (todos são cidadãos) ou com a Revolução
Russa (todos são camaradas).
Nosso país demorou
demais para acabar com o império e a escravidão. Isto alimentou a noção que existem
pessoas que já nascem importantes e pessoas que já nascem desimportantes, que
há ocupações dignas e ocupações indignas, que há origens nobres e origens
espúrias.
Veio a República, mas
seus ideais de igualdade até hoje não criaram raiz em todo lugar não! Cidades
pequenas continuaram a cultivar a ilusão de que há famílias boas e outras não
muito.
Mesmo quando essas
cidades pequenas cresceram, em muitas delas continuou a vegetar a praga da
intolerância que, em geral, se oculta. Mas às vezes se revela com perguntas
como a que fizemos acima.
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Texto de Paulo Tarcizio da
Silva Marcondes
Imagem de
http://pt.depositphotos.com/99633332/stock-illustration-pair-of-noble-people.html