segunda-feira, 17 de abril de 2017

De que família mesmo você é?


Quem pergunta isto para alguém que acabou de conhecer está de fato querendo dizer outras coisas.

Pode ser que a intenção seja puríssima: apenas saber quais são os parentes do novo conhecido, para ver se dá para aprofundar um bate-papo sobre os velhos tempos, os costumes de outrora. Quem sabe, descobrem que são parentes entre si, que habitavam no mesmo bairro em outras épocas...

Mas, dependendo da situação e do tom de voz, algumas vezes quem pergunta “de que família você é” está querendo significar: Eu sou de família boa, vamos ver você!

E família boa, para algumas dessas especulas, significa gente branca e “importante”. Ou seja, os mandões da política e dos negócios, sempre de bem com o poder religioso e, de preferência, tendo um antepassado titular do império ou quase.

Conceitos que já deviam ter acabado com a Revolução Francesa (todos são cidadãos) ou com a Revolução Russa (todos são camaradas).

Nosso país demorou demais para acabar com o império e a escravidão. Isto alimentou a noção que existem pessoas que já nascem importantes e pessoas que já nascem desimportantes, que há ocupações dignas e ocupações indignas, que há origens nobres e origens espúrias.

Veio a República, mas seus ideais de igualdade até hoje não criaram raiz em todo lugar não! Cidades pequenas continuaram a cultivar a ilusão de que há famílias boas e outras não muito.


Mesmo quando essas cidades pequenas cresceram, em muitas delas continuou a vegetar a praga da intolerância que, em geral, se oculta. Mas às vezes se revela com perguntas como a que fizemos acima.

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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Imagem de
http://pt.depositphotos.com/99633332/stock-illustration-pair-of-noble-people.html





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