O
enigma da atração que não se cumpre
O
Zaga tinha doze e eu dez anos. Percorrendo o enorme quintal, discutíamos as
leis universais da atração dos corpos, a força centrífuga e a centrípeta, e os
sábios que as formularam. Não sabíamos disto, mas estávamos praticando todo dia
a pedagogia peripatética.
Então
eu me sentei no tronco caído perto da bananeira prata e iniciei a explanação de
um belo sofisma.
Propus
ao meu irmão: se eu erguer o braço e deixar cair uma pequena pedra, ela nunca
vai tocar o solo.
Zaga
não me levou a sério: Ah vai Paulo! Claro que ela vai cair direto até o chão!
Mas
eu argumentei, sedutoramente: Veja, Zaga, as pessoas comuns podem responder
assim. Você não! Você raciocina! Pense bem. Eu solto a pedrinha e ela, num
primeiro momento, velozmente cai, percorrendo a metade da distância que a
separava do chão. Está certo até aí?
O
Zaga concordou, sem convicção. E eu prossegui na minha campanha:
Bom,
agora a distância entre a pedrinha e o chão é menor. Certo?
Ele
respondeu: Tá, tá, continua essa lengalenga.
Continuei:
agora a pedrinha vai continuar seu caminho. Inicialmente, cai metade da
distância.
Zaga
quis interferir, mas não achou jeito. Fui em frente:
Agora
falta só um tequinho para ela tocar o solo! Mas ela vai cair inicialmente só a
metade dessa distancinha. Em seguida, vai cair só metadinha dessa distanciazinha.
Depois está faltando um milímetro e ela cai só meio milímetro. Em seguida, cai
um quarto de milímetro. Depois cai só um tantinhozinho: vinte e cinco
centésimos de milímetro e depois...
Aí
o Zaga, já sem nenhuma paciência filosófica, cansou, foi indo embora e
dogmatizou:
Ah
Paulo! Começa que a pedra não cai metade da distância. Quando você solta, ela
cai tudo de uma vez.
Continuei
sentado no tronco perto da bananeira prata, pensando.
Estou
sentado lá até hoje. O Zaga nem lembra mais disso.
* * *
Texto
de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto
do site: http://ufos-wilson.blogspot.com.br/2015/06/como-lei-da-gravidade-de-newton-ajudou.html
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