domingo, 10 de setembro de 2023

A Vó de Pinda

 

Casa da Vó de Pinda, na Rua Gregório Costa. 
Do tempo antigo só sobrou essa casa na Gregório Costa. 
A entrada era pelo portãozinho no lado esquerdo.


Meu pai, o Professor Francisco, era filho de Francisco Carlos Marcondes e Maria Clara Fonseca Marcondes.

Infância de meu pai foi na Fazenda Itapecirica, em Taubaté. Adolescência dele foi estudando no Seminário Diocesano de Taubaté. Deu aulas, mais tarde, no colégio desse mesmo seminário.

Depois, quando já estava casado com minha mãe, ele trabalhou como operário na tecelagem da CTI, Companhia Taubaté Industrial, onde ainda existe aquele enorme relógio que dá para ver da Dutra.

Não conheci o meu avô paterno, Francisco Carlos Marcondes, o Nhonhô Marcondes. Era dono de um comércio em Taubaté, no Bairro de Itapecirica. Ele faleceu vários anos antes de eu nascer. Mas conheci a minha avó paterna, Maria Clara Fonseca Marcondes. Era a "Vó de Pinda", para diferenciar da nossa avó materna que morava conosco. A vó de Pinda tinha se mudado de Taubaté para Pinda.

Mudou-se para Pinda para acompanhar o seu filho caçula, o Jota Marcondes, menino ainda, que tinha vindo trabalhar na farmácia do Seu Arlindo Paim (onde hoje fica a Churrascaria Gramado, perto do Largo do Cruzeiro).

Além do meu pai, Professor Francisco, e do Jota Marcondes, a Vó de Pinda tinha também os seguintes filhos, todos nascidos e criados em Taubaté: Geraldo, Maria, Luís, Nazaré (Dala), e Aparecida.

Tio Geraldo morreu moço, de doença. Grande tristeza foi o meu Tio Luís, que morava em São Paulo e trabalhava na Light. Foi desligar uma chave de alta tensão, que ele não sabia que estava energizada. Foi jogado longe. Agonizou no hospital quase vinte dias.

Tia Maria foi casada com Seu Durvalino e era mãe de minhas primas Janda e Heleninha. Morou muitos anos numa casa em frente ao Rodrigo Romeiro.

Tia Cida foi morar em Coruputuba e, depois, na Vila São Benedito. Era casada com o Seu Sebastião Enfermeiro e era mãe do meu primo Valério.

A Vó de Pinda morava na Rua Gregório Costa (rua que começa no largo de São José e vai em direção à estão de trem). A casa onde ela morou ainda está em pé.

Eu tinha uns cinco ou seis anos quando fui com a mãe visitar a Vó de Pinda. O que ficou na minha lembrança foi a escuridão da casa. Não tinha tantas janelas como a nossa casa de Coruputuba, sempre arejada e clara.

Na cozinha, um fogão a lenha, com os tições crepitando. Com uma chaleira esquentando e, no canto, um bule bonito, meio velho, era um bule de esmalte verde com flores azuis. Nós falávamos na época: era um bule de ágata.

As paredes pretas de fuligem, o telhado enegricido de picumã, a iluminação natural entrava por uma telha de vidro lá em cima. A vó estava passando roupa com um ferro grandão e pesado. Ela puxou umas brasas do fogão, encheu o ferro e ficou balançando, para manter as brasas acesas.

A chaleira ferveu, ela passou café no coador de pano, tomei o café gúti-gúti, numa caneca de folha e depois me sentei na soleira da porta da cozinha, mastigando um pedaço de pão.

Alguém pode estranhar eu dizer que tomei café gúti-gúti. Isto quer dizer, beber de uma vez toda a caneca de café para só depois comer o pão. As crianças faziam assim. Só os adultos que ficavam dando uma dentada no pão e bicando gole de café.

Comi o pão e falei pra mãe: “Mãe, tô precisando”. A vó escutou e mandou eu ir na casinha, no fundo do quintal. Antigamente falavam assim: casinha, em vez de falar banheiro. Na "casinha", a privada era de buraco.

Fui lá fazer o que eu tinha que fazer. O quintal, saindo da porta da cozinha, ia baixando, todas as casas da rua eram mais altas do que os quintais. Vejam que a Rua Gregório Costa fica num tope de morro, os quintais vão descendo para o fundo do quarteirão.

O quintal tinha uma horta pequena, cercada de taquara por causa das galinhas. Uma ou outra bananeira e nas beiradas crescia capim e uns pés de mamona.

No fim do quintal, lá embaixo, uma cerca separava do bambuzal da beira do ribeirão. Hoje eu sei que o ribeirão que passava ali era o córrego do Tabaú. Bom, ainda passa, mas passa canalizado, debaixo da Alfredo Valentini e da Coronel José Francisco.

Papai não foi nessa visita que fizemos para a Vó de Pinda. Não dava para sair todo mundo de casa, e ele dava aula de tarde.

Talvez em 1960... não sei. A vó de Pinda mudou para Lorena, foi morar lá com a Tia Dala (Maria Nazaré), que trabalhava num hotel. Fui lá uma vez, com minha mãe (nosso pai já tinha falecido). Fomos na casa da vó, com um quintalzinho na frente da casa. Ela tinha uma galinha que obedecia tudo que ela mandava: Vem beber água!, vai ciscar no quintal!, vem pra dentro! A galinha dormia dentro de casa. Parecia um cachorrinho obediente, a vó ficava conversando com ela.

Depois fomos ver a Tia Dala no hotel. Uma escada alta, alta... degraus de madeira envernizada.

Quando a vó de Pinda - que já era Vó de Lorena - ficou doente, minha mãe foi passar algumas semanas com ela, para tomar conta, dar os remédios, conversar. A nossa avó paterna, Dona Maria Clara Fonseca Marcondes, morreu em 1963.

Minha mãe não foi ao enterro em Lorena, mas o Zaga foi. Ele já era mocinho, tinha dezoito anos, estava no Científico.

Depois ele me contou da casa, que eu já tinha conhecido antes dele. E me contou uma coisa que fiquei com dó. A galinha mansa não queria ir para o quintal, quis ficar no velório, ficava rodando pela sala, procurando...procurando... acho que querendo escutar aquela voz que ela tanto obedecia...

2 comentários:

  1. Professor Paulo sempre nos encantando com suas histórias .

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  2. Neide Durand- viajo no tempo ao ler suas publicacoes. Obrigada professor Paulo.

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