sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A migração dos bigodinhos


Final de fevereiro. Mas desde novembro, nos dias de chuva mansa, você escuta o bigodinho cantando nos ciprestes e nos flamboaiãs do Cemitério, no tamarindeiro do Bosque, nas paineiras do Mandu, nos eucaliptos de Coruputuba, nos pinheiros do Ribeirão Grande...
Viajando para Ubatuba, para Santo Antonio do Pinhal, parece que o canto desse passarinho acompanha a gente, vamos ouvi-lo nas árvores de todo lugar...
Bigodinho, por enquanto, não quer saber de mais nada. Só quer chacoalhar dentro do papo seus milhares de bolinhas de gude minúsculas e sonoras: chacoalha com força por uns segundos, para, aguarda as bolinhas silenciarem, dá um chacoalhãozinho e chacoalha forte tudo de novo, sem se mover no ramo do cinamomo da beira da estrada.
Mas são os últimos dias. Breve os bigodinhos vão embora. Estavam nidificando, tirando filhotinhos, tratando deles até que, pardinhos, também começaram a querer cantar. Então está na hora da migração: todos os bigodinhos que hoje estão cantando aqui no Sudeste – e também na Argentina, no Uruguai e no Paraguai – todos eles vão viajar.
A viagem fantástica: obedientes a um instinto de milhões de anos, voam sobre o centro do Brasil e o leste da Bolívia até atingir as regiões do oeste da Amazônia. Não vão para as florestas, mas para os campos naturais do Amazonas, do Acre... Vão comer as sementinhas dos capins de lá. Fugiram daqui, do frio do nosso inverno.
Por isto que ninguém vai escutar bigodinho cantando no Bosque ou no Cemitério em junho, julho... Bem capaz! Nunca!
Tempo de frio, a gente vai ver é andorinhão em bando, chiando nos fios dos postes da Vila Bourguese.



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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes

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