Ela apareceu em casa e ninguém sabia de onde ela tinha vindo.
Quando eu cheguei da escola meus irmãos estavam excitados, falando todos ao mesmo tempo, no jardim, em volta da cabritinha marrom.
Tão bonita! O pelo era marrom nas costas, mas no peito era mais claro, na barriga era quase branco. As suas tetinhas eram cor-de-rosa. Não parava de balançar o rabinho.
Reparei que os chifres ainda eram bem pequenos, porque ela era bem nova.
A cabrita comia tudo que a gente dava. Comia, comia, depois parava, deitava na sombra. E de repente começava a mastigar sem comer! O Pedro me explicou que ela estava ruminando, quer dizer, o capim que ela tinha engolido voltava para a boca para ser mastigado de novo.
Mamãe não deixou a gente levar a cabritinha para o quintal. Falou: "Deixa ela no jardim, para todo mundo ver. Assim o dono vai ficar sabendo que ela está aqui."
De tarde apareceu o Seu Zé Campeiro, que só andava de bota, chapéu de couro e facão na cinta. A cabritinha era dele, tinha escapado da casa dele lá na Vila Figueira. Ele tinha vindo buscar.
Eu corri para o quarto e fiquei quieto.
Um tempo depois o Zaga e o Pedro entraram correndo:
"Bobo, bobo! Não precisa chorar, a mãe comprou a cabra! O Seu Zé Campeiro vendeu!"
Eu falei que não estava chorando nada. Falei que tinha entrado um cisco no meu olho.
* * *
Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
(Isto aconteceu em Coruputuba no dia 21 de abril de 1960).
(Isto aconteceu em Coruputuba no dia 21 de abril de 1960).
Foto: viamao.olx.com.br
Nossa, me emocionei. Vivi tantas histórias parecidas.Gosto de ser lida.
ResponderExcluirLegal essa história. Seu Zé Campeiro e mais dois boiadeiros foram um dia na minha casa, eu devia ter uns cinco aninhos de idade, um boi loucou chegou em casa no início da noite e ficou correndo em vota da casa. Ele cansava, se distanciava um pouco da casa mas não tirava os olhos da porta da casa, até que um tio (o falecido dito surdo, saiu sorrateiramente pulando a janela, foi até a fazenda e trouxe os campeiros. Quando chegaram o boi não estava mais. Foram pela trilha que ele deixou e o acharam morto logo mais adiante. Mas, contei essa história só para relembrar do seu Zé Campeiro. Homem sorridente e amigo de todo mundo. Por falar em cabrita marron, minha mãe de leite era também uma cabrita marron. Meu avô criava cabritas para vender o leite e os cabritinhos, e, separou uma cabrita marron e a deu para minha mãe. Eu adorava vê-la tirar leite daquela cabrita.
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