sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
Um compromisso que não cumpri
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Primeiro dia de aula
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Os registros de batizados
Em 1960, quando eu tinha treze anos, cursei o primeiro ano do ginásio no antigo prédio do Instituto de Educação, que funcionava no Palacete Visconde da Palmeira. Cinquenta anos depois voltei a esse mesmo Palacete, para dirigir o Museu, que agora ocupava o mesmo prédio onde eu tinha estudado na adolescência.
Mas outras coincidências iam acontecer.
Era o ano de 2011, centenário da Fazenda Coruputuba e eu dirigia os preparativos no Museu, para uma grande exposição comemorativa, relembrando os tempos do Doutor Cícero Prado.
Fotos da fábrica, da Igreja, do campo de futebol, dos times, de grupos familiares e também reproduções de documentos: livros de marcação de consultas médicas e odontológicas, do tempo do Dr. Chiquinho e do Dr. Lessa, livros de atas das associações religiosas...
E achei os blocos de registros de batismo. Emoção! Eram as segundas vias, que ficavam presas ao bloco, contendo, em carbono, o nome da criança, os nomes dos pais, dos padrinhos, a data de nascimento e a de batismo e a assinatura do padre. Emoção maior: quase todos os registros feitos entre 1951 e 1956 estavam com a letra do meu pai.
De fato, o Professor Francisco Fonseca Marcondes, além de ajudar à missa, ler a epístola, abrir e fechar a capela, também fazia o serviço de secretaria, marcando as missas e preenchendo os blocos de batizado.
Os estagiários do Museu fizeram as fotos desses blocos e passaram para mim as cópias digitais.
Meditei sobre a surpreendente beleza dos caminhos do Senhor. Vejam só: fui colocado trabalhando no lugar aonde iam se cruzar a história do meu bairro, a minha história de estudante que, havia mais de cinquenta anos, iniciou o ginásio nesse mesmo prédio do Museu – e a história religiosa do meu pai.
No computador, fui arrastando as imagens para o Word até formar blocos por ano para então salvar como PDF. À medida que fazia isto, ia vendo os nomes dos bebês, que hoje estão com sessenta ou setenta anos; os nomes dos pais, que eram amigos ou alunos do meu pai; e os nomes de crianças que, com dez ou onze anos, foram mais tarde meus primeiros alunos na escola de Coruputuba.
À medida que o serviço avançava, também avançavam os anos daqueles blocos de registros. Quando comecei a organizar no computador os batizados de 1956, foi me dando certo mal estar. Janeiro, fevereiro, março: sempre uns três ou quatro batizados por domingo. Abril, maio, junho, julho: eu não queria continuar, a sensação ruim aumentava. Agosto, setembro: Meu Deus, preciso de força para ir em frente! Entrou o mês de outubro de 1956 e então o desgosto foi muito grande.
Meu pai, com a letra firme de professor, reta, vertical, sempre legível, estava registrando os batizados, três ou quatro a cada domingo. Eu olhava aquilo e tinha vontade de avisá-lo: “Papai, seu tempo está acabando!” Mas ele prosseguia registrando e eu ia virando as folhas. No dia sete, três batizados. No dia quatorze, quatro batizados, com a letra dele.
E então acabou. No dia vinte e um a letra já era de outra pessoa: meu pai estava internado. No dia vinte e oito, último domingo do mês, a mesma coisa. Papai faleceu na segunda feira, dia vinte e nove. Continuei montando o PDF para publicação na internet e para imprimir os blocos para a exposição. Mas a tarefa tinha perdido o encanto.