Como foi que aprendi a gostar
de ler? Provavelmente vendo papai ler, percebendo o seu carinho com os
livros... E ele nunca achou ruim quando a gente pegava os livros dele. Mas foi
decisiva a atuação de minha professora do segundo ano, Dona Célia.
Quase no final da aula,
período das onze às duas, todos
tinham pressa em guardar o material, cruzar os braços sobre a carteira e fazer
completo silêncio. Só então Dona Célia abria a gaveta e tirava o livro “Uma
história e depois... outras”. E começava a ler, contando-nos a continuação da
história do cão “Lobo-Bom”, que vivia no sítio do vovô e se afeiçoou pelo casal
de netos em certas férias da escola - e depois, quando as crianças partiram,
partiu também atrás do trem e viveu muitas aventuras, muito sofrimento e
cansaço, até chegar à cidade... E a história prosseguia...
A história prosseguia, um
pedacinho por dia, provocando minha imaginação de criança de oito/nove anos...
Aqueles minutos no final da aula de cada dia, antes que a sineta da Dona Luiza Assoni começasse a soar pelos corredores... Aqueles minutos eram aguardados com
ansiedade, como hoje se espera pelo capítulo da novela da TV.
Quando finalmente chegou a
última página do livro, com o final da história do “Lobo-Bom”, foi uma tristeza
geral: acabou... Mas Dona Célia passou para a segunda fase de seu plano: falou
sobre a biblioteca da escola, contou que o livro estava à disposição dos
alunos, e havia outros livros, também interessantes, e nos ensinou como fazer a
inscrição que nos habilitaria a emprestar tais livros, podendo levá-los para
casa.
Toda noite, daí em diante,
havia em casa uma sessão de leitura, comandada pelo Pedro, que já estava no
ginásio e lia em voz alta com muita clareza, usando os tons adequados a cada
passagem. Eu e meus irmãos, sobre a cama ou ao lado do fogão, viajávamos pelos
mais diferentes pontos do mundo, conhecendo povos, costumes, animais, rios,
florestas. Viajávamos, nós, tão pobrezinhos... Levados pelas asas dos livros,
livros cheios de bonitas letras e ilustrações atraentes, livros com um cheiro
especial de relíquias, encapados de papelão azul...
Professora Célia Lopes Malhado,
Deus a abençoe!
***
Texto
de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto:
Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina
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