No ginásio, até o início da terceira série (hoje seria sétima série), eu criei fama de ótimo aluno, disciplinado e bom de nota. Com isto, conquistei prestígio entre os professores e os bons alunos. Mas faltava ser aceito pelos colegas mais alegres e irreverentes. Então, abandonei o meu lugar nas primeiras carteiras e fui me sentar mais no fundo da sala.
Iniciei uma estratégia de fazer piadas em voz baixa e continuar com cara de santo enquanto os colegas rachavam de rir. Comecei a passar cola para o pessoal (mas colar deles nunca!). Minhas notas caíram, os professores ficaram preocupados, mas eu comecei a me sentir melhor, mais crescido.
Ampliei o círculo de colegas. Já contava com a amizade dos alunos mais comportados: o Freitas, o Edmundo, o Paulo Marques, o Carneiro, o Sérgio Clive, o Koiti... Agora, passei a conviver mais com os irmãos Samahá, com o Cabral, o Vizaco, o Immediato, o Patinho...
Na aula do Prof. Celso, o Adilson se inclinou para o meu lado e cochichou: − “Paulo, pergunta o que é strip-tease!”
Achei boa a idéia. Ergui a mão e o professor fez sinal para que eu falasse. Fui em frente: − “Teacher, what is the portuguese for strip-tease?”
O professor hesitou, em vez de responder de bate-pronto como sempre fazia. Estranhei. Ele pensou, pensou e começou a contar uma história: Tinha visto na televisão recentemente um programa em que uma mulher estava vestida com determinada roupa e foi coberta por uma espécie de capa e alguém lhe entregou uma outra roupa. Depois de certa movimentação, foi retirada a capa protetora e eis que surgiu a moça agora vestida com a nova roupa. Concluiu o professor: − “No intervalo de tempo entre estar vestida com uma roupa e passar a ficar vestida com outra roupa... a moça ficou em estado de strip-tease”.
Talvez eu tenha ficado vermelho, não sei. Mas fiquei chateado com a chateação do professor. Eu gostava tanto dele, do seu jeito de ensinar inglês falando somente em inglês. Para responder a minha pergunta ele tinha sido obrigado a abandonar essa técnica e, pela primeira vez, tinha falado longamente em português na sala de aula.
E, de fato, eu não sabia o que era strip-tease. Garoto da roça, com quatorze anos, sem televisão em casa... Já tinha ouvido a expressão, mas não sabia o significado. E não tinha relacionado as risadinhas da turma com o pedido que o Samahá maior estava me fazendo.
As risadinhas viraram gargalhadinhas abafadas enquanto o professor me respondia. E a classe era mista, as meninas me olharam com estranheza.
Mas fiquei bem popular na turma do fundão. E o professor Celso, vai ver que ele sempre ficou pensando que eu tinha feito uma pergunta só para encostá-lo na parede.
But I did not want to bore you, Teacher!
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto: http://www.scielo.br/
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