sábado, 24 de novembro de 2012

Fechou o hospital dos pobres


Leone Bazin e Dimitrius Stambolos


Uma das lembranças mais antigas que tenho (eu teria uns quatro anos de idade) é esta: junto com meu Pai e minha Mãe, de manhã cedinho, com sol brilhando no céu azul, fazendo muito frio, descemos do ônibus dos Valentini em algum lugar na chegada de Pinda. Andamos bastante, em direção ao Cemitério. Atravessamos uma linha de trem, caminhamos por um trecho com capim molhado de orvalho e chegamos a um prédio onde eu fui examinado por um doutor, minha mãe ganhou umas latas de leite em pó, remédios e depois... Depois não lembro mais nada, não sei onde era esse lugar que tinha pessoas que cuidavam da gente.

Mas o tempo passou e vim a descobrir que aquilo era o Posto de Puericultura do Hospital e Maternidade Bazin. Quem me contou direitinho foi o Demétrio Guarany Avelar, que hoje mora em Taubaté e foi um dos maiores jogadores de futebol do passado, tendo jogado junto com o Zito no infantil do São Paulinho. E, além disto, o Guarany também é avô da minha netinha Pietra. A narração é esta:

O Dr. Dimitrius Stambolos e sua esposa Leone Bazin, padrinhos do Guarany, venderam a Fazenda Ibiá (depois, Mandupá) e aplicaram o dinheiro na construção e montagem do Hospital, investindo em mobiliário, sala cirúrgica, farmácia, aparelho de Raio X e outros equipamentos. O prédio ficou com duas alas: uma para os pagantes e outra para os pobres. Com o passar do tempo, as despesas aumentaram muito, já que o Hospital era procurado quase que somente pelos pobres.

Na gestão do Dr. Adhemar de Barros, foi feito um convênio com o Estado, que passou a pagar o quadro de funcionários e a destinar uma verba para as despesas correntes. Porém, após alguns meses, o Estado parou de remeter a verba. Isto levou ao fechamento do hospital, para grande tristeza e decepção do casal Stambolos. O imóvel acabou sendo vendido para a Congregação dos Sagrados Corações, dos “padres brancos”, que ali permanecem até hoje.

Outro narrador me contou que um dos motivos para a queda da procura por parte de pagantes na maternidade foi a pregação da oposição religiosa: seriam amaldiçoadas as crianças que lá nascessem, porque os Stambolos eram espíritas.  

Em nossa cidade, meus caros, a religião pegava pesado.



* * *
Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes, conforme narração de Demétrio Guarany Avelar
Fotos: Arquivo Histórico Dr. Waldomiro Benedito de Abreu – Fundo Demétrio Guarany Avelar

Um comentário:

  1. Chegará um tempo na história da humanidade em que os humanos praticarão a caridade e o amor sem serem seguidores de religião ou filosofia....Assim, em pouco tempo acabará a miséria no planeta Terra......A miséria e o sofrimento existem para alimentar,sustentar as religiões e as filosofias espirituais........O amor e a caridade precisam ser prática humana e não imposição religiosa ou adesão a uma idéia filisófica para através destes se alcançar uma suposta salvação ou evolução....."Amar por amar......ajudar por amar"....

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