Antiga Maternidade
Cícero Prado. Ficava onde hoje fica a ala nova da Santa Casa de Pindamonhangaba, ou
seja, depois da segunda cancela.
Noite
gelada a de 13 para 14 de junho. Mas as contrações se tornaram frequentes e a
ambulância da Companhia levou Dona Tereza com Seu Francisco para a Santa Casa,
para a Maternidade Cícero Prado.
Parto
difícil, demorado. A mãe sofria, a criança sofria. Doutor Caio e a Maria José
se empenhavam, Dona Tereza forçava. O quinto filho demorava para nascer.
Finalmente,
surgiu o topo da cabecinha. Mas o parto não progredia e o coroamento, que não
avançava, preocupou a todos naquela sala. A criança nasceria com vida? Dona
Tereza, em dores, pedia: ‒ “Batiza a
criança!” ‒ e insistia, com medo de que, morrendo sem ser batizada, ela
fosse parar na solidão do limbo.
Era o
caso de um batismo de emergência. Maria José, experiente, trouxe água num copo
e, derramando-a na parte visível da cabecinha, pronunciou as palavras sagradas:
‒ “Eu te batizo, Paulo ou Tereza, em nome
do Padre, do Filho e do Espírito Santo, amém.”
Mais
esforço, mais diligências, a cabeça surgiu por inteiro. E viu-se que era uma
bela criança. Mais um pouco, mais força, e eis a criancinha inteira. E viu-se
que era Paulo.
Mas não
chorava, não respirava. Técnicas de ressuscitação, sem efeito. Dona Tereza se
lembrou das dificuldades com o nascimento do terceiro filho, o Pedro, e
instruiu o médico: ‒ “Dá uma injeção de coramina,
doutor, o meu terceiro também nasceu assim, deu certo, doutor!”
E
aplicou-se a injeção, e deu certo, e a criança respirou, e chorou.
No outro
dia, ainda na maternidade, Dona Tereza e Seu Francisco conversavam sobre o nome
da criança. Ele queria Paulo de Tarso. Ela ponderou que todos os filhos, até
ali, tinham nomes de dois santos protetores: Francisco Carlos, Ana Clara, José
Pedro e Luiz Gonzaga. Mesmo o primogênito, morto algumas horas após o parto,
chamou-se Antônio Gerson.
Por tudo
isto, o pequeno Paulo deveria receber mais um nome de santo. Talvez pela
proximidade fonética com Tarso, decidiram: Paulo Tarcizio.
E o
bebê, tendo nascido rodeado por nomes romanos (Cícero, Caio) e nomes cristãos
(Maria, José, Tereza, Francisco), acabou ganhando os nomes de dois romanos
cristãos: Paulo e Tarcizio.
O
primeiro, em homenagem ao soldado que abraçou o cristianismo sem abdicar da
cidadania romana. O único apóstolo que teve a coragem de, na cara, apontar os
erros de São Pedro, o dirigente da igreja que se fundava*.
O
segundo, lembrando o adolescente que, indo levar as hóstias consagradas para a
comunhão dos encarcerados na Prisão Mamertina, sofreu o ataque de ladrões, que
supunham ser sua carga secreta um punhado de valiosas moedas. O jovem defendeu
até a morte a riqueza verdadeira, muito mais valiosa, e que nunca lhe seria
tirada.
Com
esses nomes, voltou para Coruputuba, cresceu e foi chutar bola no quintal,
tratar das galinhas e apanhar coquinho em volta da capela.
*****
*Gál 2:11-14
Texto
de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto:
http://www.pindamonhangaba.sp.gov.br/downloads/coruputuba/Fotos%20de%20Coruputuba/Fotos%20Coruputuba%202.pdf
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