sexta-feira, 9 de março de 2018

A horta do grupo escolar rural


 Alunos do quarto ano com o Professor Antônio Calixto Rodrigues

O nosso Grupo Escolar tinha no nome a palavra Rural, mas não era só por causa de estar na roça. Era porque ali havia ensino agrícola mesmo. Aprendíamos a cultivar verduras e legumes trabalhando na horta da escola e depois fazíamos hortas em casa e o professor visitava os quintais de alguns alunos, para verificar como estava indo a produção doméstica...
Duas vezes por semana, após o recreio, a classe toda ia para a horta. Cada um fazia um serviço, as meninas também. Aprendíamos a cuidar das sementeiras, fazer o transplante das mudinhas, molhar os canteiros, pegando água na bica. Existia uma mina d’água no fundo da horta. Depois da ampliação da escola, em 1970, a mina desapareceu, mas ficava mais ou menos onde foram construídas a diretoria e a secretaria da escola nova.

Havia os dias de colheita, quando as verduras estavam prontas para o consumo. Todos levavam para casa sacos de alface, chicória, couve, rabanete... Nos dias de transplante, quem estava fazendo horta em casa ganhava mudinhas prontas para os canteiros definitivos.
Junto à horta, havia um ranchinho muito organizado, construído com toras de madeira. Era o depósito das ferramentas, gerenciado pelo Seu Zé e mais tarde pelo Seu Dito, que acabou se aposentando na Escola Eurípedes Braga, na cidade. As ferramentas ficavam penduradas arrumadinhas e ali a gente pegava e ali as devolvia no final do trabalho. Era preciso limpar e lavar antes de devolver. Assim, estavam sempre apresentáveis as enxadas, os enxadões, as pás, os rastelos...

A glória verdadeira era chegar correndo na frente dos colegas e pegar o peruzinho para ir buscar esterco. Formava-se um trio: um empurrando o peruzinho e os outros dois com pás para catar esterco de boi nos pastos atrás da Vila Jacarandá. Claro que a gente esticava a caminhada, ia procurar esterco perto do primeiro tanque, ou do outro lado do segundo tanque, onde depois fizeram a Casa Amarela. O chato era começar de repente a encontrar esterco verde, fresco: queria dizer que os bois estavam por perto. Acontecia às vezes, e a gente recuava logo, medo de dar de cara com boi bravo no meio dos eucaliptos...
Atrás da Vila Jacarandá tinha umas casas com laranjeiras e às vezes a dona da casa deixava a gente apanhar as laranjas que estavam quase rachando de maduras... Aprendi a abrir laranja na mão, sem faca.


Quando voltávamos com o carrinho cheio de esterco, a Dona Luiza Assoni já tinha preparado uns belos pratos de canjica doce, quentinha, para nós. É que muitas vezes as aulas já tinham acabado, os colegas tinham ido embora e só nós tínhamos sobrado, pequenos heróis queimados de sol na batalha pelo adubo para a horta.
E ninguém achava ruim a demora, nem os professores, nem as famílias. Pequeno paraíso, a nossa Coruputuba. Onde mais, neste mundo, alguém iria confiar uma tarefa daquela para crianças de nove ou dez anos?
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Fotos: Coleção Patrick Assumpção, Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina

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