O nosso Grupo Escolar tinha no
nome a palavra Rural, mas não era só por causa de estar na roça. Era porque ali
havia ensino agrícola mesmo. Aprendíamos a cultivar verduras e legumes
trabalhando na horta da escola e depois fazíamos hortas em casa e o professor
visitava os quintais de alguns alunos, para verificar como estava indo a
produção doméstica...
Duas vezes por semana, após o
recreio, a classe toda ia para a horta. Cada um fazia um serviço, as meninas
também. Aprendíamos a cuidar das sementeiras, fazer o transplante das mudinhas,
molhar os canteiros, pegando água na bica. Existia uma mina d’água no fundo da
horta. Depois da ampliação da escola, em 1970, a mina desapareceu,
mas ficava mais ou menos onde foram construídas a diretoria e a secretaria da
escola nova.
Havia os dias de colheita,
quando as verduras estavam prontas para o consumo. Todos levavam para casa
sacos de alface, chicória, couve, rabanete... Nos dias de transplante, quem
estava fazendo horta em casa ganhava mudinhas prontas para os canteiros
definitivos.
Junto à horta, havia um
ranchinho muito organizado, construído com toras de madeira. Era o depósito das
ferramentas, gerenciado pelo Seu Zé e mais tarde pelo Seu Dito, que acabou se
aposentando na Escola Eurípedes Braga, na cidade. As ferramentas ficavam
penduradas arrumadinhas e ali a gente pegava e ali as devolvia no final do
trabalho. Era preciso limpar e lavar antes de devolver. Assim, estavam sempre
apresentáveis as enxadas, os enxadões, as pás, os rastelos...
A glória verdadeira era chegar
correndo na frente dos colegas e pegar o peruzinho para ir buscar esterco.
Formava-se um trio: um empurrando o peruzinho e os outros dois com pás para
catar esterco de boi nos pastos atrás da Vila Jacarandá. Claro que a gente
esticava a caminhada, ia procurar esterco perto do primeiro tanque, ou do outro
lado do segundo tanque, onde depois fizeram a Casa Amarela. O chato era começar
de repente a encontrar esterco verde, fresco: queria dizer que os bois estavam
por perto. Acontecia às vezes, e a gente recuava logo, medo de dar de cara com
boi bravo no meio dos eucaliptos...
Atrás da Vila Jacarandá tinha
umas casas com laranjeiras e às vezes a dona da casa deixava a gente apanhar as
laranjas que estavam quase rachando de maduras... Aprendi a abrir laranja na
mão, sem faca.
Quando voltávamos com o
carrinho cheio de esterco, a Dona Luiza Assoni já tinha preparado uns belos
pratos de canjica doce, quentinha, para nós. É que muitas vezes as aulas já
tinham acabado, os colegas tinham ido embora e só nós tínhamos sobrado,
pequenos heróis queimados de sol na batalha pelo adubo para a horta.
E ninguém achava ruim a
demora, nem os professores, nem as famílias. Pequeno paraíso, a nossa
Coruputuba. Onde mais, neste mundo, alguém iria confiar uma tarefa daquela para
crianças de nove ou dez anos?
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Fotos: Coleção Patrick Assumpção, Museu
Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina
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