O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Ereção da Capela de Coruputuba


Importante por situar a data da inauguração e os motivos que levaram a família do Dr. Cícero da Silva Prado a erguer a capela.
Transcrição paleográfica de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes

Dia 7 – Benção e inauguração da Capella de N. Senhora d’Appa
recida, no bairro de Coruputuba.
Às espensas do Sr. Dr. Cicero Prado, proprietário
das Fabricas de papel naquelle bairro, foi erecta uma
nova Capella, estylo Colonial, na parochia, em hon-
ra de Nossa Senhora d’Apparecida. Prendeu-se
tal gesto a um voto feito pela esposa do mesmo
Sr., pelo qual, si os exércitos ditatoriais, na Revolu-
ção de 32 não attingissem em armas tal bairro,
ali seria, em agradecimento a N. Senhora d’Apparecida,
erecta uma Egreja (para) piedade dos operarios das
fabricas. Com efeito. A ultima trincheira paulis-
ta, estendida ao longo dos bairros de Moreira Cesar,
Taipas, Sapucaia e Piedade, não chegou a ser uti-
lisada. A guerra cessou em Engenheiro Neiva,
entre Guaratinguetá e Apparecida. Não era possível
que a boa Mãe dos brasileiros, assistisse impassí-
vel a lucta de irmãos em briga, passando por
defronte de Sua Basilica. E a lucta cessou.
O ultimo quartel general Constitucionalista da frente norte,
foi precisamente no chalet residencia do Sr.
Dr. Cicero Prado. Ali se concertou o Armisticio,
com a reunião celebre dos generais paulistas, -
Andrade, Palimercio, Figueiras e Herculano de Carva-
lho .. de tristissima memória! A Egreja que,
desde 7 de janeiro de 1934 ali se ergue, ficará
portanto, como o marco milliario da investida dos
bandeirantes, contra os que não quiseram a lei na
pátria!..
O Rev Vigario celebrou a 1ª Missa, às 8 horas
dando Comunhão a mais de 100 pessoas, dos quaes
49 creanças, preparados pelas virtuosas Irmans vi-
centinas, fizeram sua 1ª Comunhão.
Celebrou a 2ª Missa às 10 ½ horas, aos opera-
rios, aos quaes pregou sobre o problema do opera-
riado em nossos dias e de como Só a S. re-
ligião o sabe resolver!
À tarde, às 5 ½ horas, organizou-se Solene
Procissão pelas alamedas da fazenda, com gran-
de acompanhamento de fiéis. Ao seu termo, o
Rev Vigario, novamente pregou à porta da Egreja.
O Sr. Dr. Cicero Prado offereceu a Egreja e terrenos adja-
centes (5 metros) à Curia Diocesana, como de direito,
para as provisões devidas. 

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Vermelho sobre negro


Quase uma hora da tarde. No meio da multidão de alunos, eu descia a ladeira da Bicudo Leme, sob o sol de verão, indo para o Instituto. O colorido das calças cáqui, das saias azuis, das blusas brancas com emblema, o falatório geral, as risadas, os gritos, tudo aquilo me deixava meio tonto, com vontade de não estar indo para a escola coisa nenhuma. A terceira série do ginásio não me alegrava.

O que me alegrava era ficar em casa, no quintal, debaixo das ameixeiras, cuidando dos animais, limpando o galinheiro, o chiqueiro, levando as cabras para pastar, arrumando os canteiros das verduras. Queria ficar olhando as gaiolas dos passarinhos, queria pegar numa vassoura e ir varrendo o caminho que passava entre as bananeiras e terminava lá no fundo, no muro da fábrica. Eu estava deprimido naquele ano, mas nem sabia o que era isto.

Algumas semanas antes, tinha ido à Imperial, para comprar as meias pretas e mais alguma coisa do uniforme. Tudo na conta da Companhia Cícero Prado, era o prêmio por ter tirado o diploma do primário em primeiro lugar. Só que, na hora de escolher as meias, um problema: a loja não dispunha de meias inteiramente pretas. As que comprei tinham três bolinhas vermelhas no punho. Mas isto ninguém ia ver, debaixo das calças cáqui.

Dobrei a esquina, junto com o rebanho de alunos. E todos foram diminuindo a marcha, havia um aglomerado junto aos portões: os inspetores estavam verificando os uniformes e recolhendo as cadernetas. Eu me sentia em paz: meu uniforme completo, minha caderneta no bolso. Podem me examinar, Seu Cacá, Seu Lula, Seu Gumercindo, Dona Toninha, Seu Mattos... Não vou perder a prova de hoje.

O Seu Lula me parou. Fui mostrando: “Está tudo certo, camisa com emblema, a calça cáqui, cinto preto, sapato preto, meia preta”. Mas então ele falou: “Levanta a perna da calça!”. Então lembrei do problema das meias, puxei para cima só um pouquinho a perna da calça. “Levanta mais! Quero ver a canela!”. Meu Deus do Céu, levantei mais um pouco e ele bradou triunfante: “Tem essas bolinhas vermelhas, não é meia do uniforme, não vai entrar”.

Argumentei, sem força. Pedi, mostrei que as bolinhas nem apareciam, só se alguém fosse arregaçar as minhas calças. Não adiantou, ele já me descartou de lado, o rebanho precisava passar. “Vou perder prova, Seu Lula!”. Ele nem respondeu, os colegas que entravam me empurravam para a calçada, sem querer: era a multidão. “Seu Lula, eu vim de Coru, vou perder aula, vou ter que voltar?” Mas ninguém deu atenção, fui embora.

Nem tinha ônibus do Seu Ciro naquele horário, tive que pegar o Pássaro Marrom, descer na estrada, no Portão de Coru, andar um trechão até chegar em casa. O Pedro estava lá, ele estudava de manhã. Começamos a consertar o telhadinho de sapé da casa da cabra. Deu tempo ainda de aproveitar o vento, empinar pipa com o Bosco. De noite, a Vó fez arroz com linguiça de lombo, bem fritinha.

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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes