O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

domingo, 24 de novembro de 2013

Papai Noel... e o Menino Jesus?



Nossa! Dez a zero para o Papai Noel! Tadinho do Menino Jesus, já teve seus dias de glória. A imagem de Menino Jesus com os bracinhos abertos? Agora, só nas igrejas mesmo. E só nas católicas, porque as igrejas evangélicas não curtem imagens. Mas, nas vitrines das lojas da cidade e dos shopping centers, bem capaz. Só árvores de natal, bolas, sinos, laços, muito vermelho com muito verde, papais noéis... mas Menino Jesus, presépio? Nada!
Rodei Pinda, São José, Taubaté – o comércio nem sabe mais quem foi Menino Jesus. O espírito natalino de agora não tem nada a ver com o nascimento de Jesus. Tem a ver somente com a ansiedade de compras, pacotes, festas, comidas gostosas, confraternizações onde ninguém faz uma oração. Aliás, quem quiser fazer uma oração numa confraternização num restaurante vai compor um tipo extravagante, melhor não...
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Quando eu era criança, logo que entrava o mês de dezembro, começávamos a brincar de Natal.
Pleno dia, sol claro, fechávamos a janela do quarto: ficava escuro como a noite. Espalhados pelo ambiente, cada um de nós representava um dos animais da lapinha: um era o Boi, outro o Cavalo, alguém era a Ovelha e havia o Galo também.
Então um de nós, fazendo de contrarregra – diríamos hoje: efeitos especiais – começava a abrir e fechar rapidamente, um tantinho só, a janelinha da vidraça, provocando como que ligeiros relâmpagos no quarto escuro. Era o instante do nascimento do Menino Jesus, os relampaguinhos seriam os raios de luz emitidos pelos anjos.
O Galo cantava: Cristo nasceeeeeeu!!!
O Boi mugia grosso: Aoooonde?
A Ovelha berrava: Em Belééééém....
O Galo tornava: Para queeeem???
Ao que a Ovelha explicava: Para o nosso beeeeeemmm!!!
Então cantávamos a Noite Feliz.
***
Papai montava um minucioso presépio, com o Menino Jesus, Nossa Senhora e São José dentro da lapinha, junto com o Boi, o Jumento e as Ovelhas. A lapinha era feita com papel de seda rosa, com uma pequena lâmpada oculta. De noite, com a luz da sala apagada, o resplendor da lapinha iluminava os nossos corações infantis.
Diante da lapinha, uma planície de serragem colorida. Ali ficavam, de costas para nós, os Pastores e os Reis Magos, aproximando-se do Mistério. Sobre a lapinha, como que flutuando com suas boas novas, o Anjo. Acima e por trás da lapinha, montanhas de papelão azul que iam subindo pela parede do canto da sala. Em alguns recantos da montanha, cacos de espelho com as bordas escondidas por orquídeas e parasitas. Caminhos recobertos de areia e margeados por conchinhas, que terminavam de repente no caco de espelho: parecia que o caminho penetrava nas rochas e continuava, continuava...
Pelas encostas e pirambeiras das montanhas, casinhas com janelinhas recortadas, galos, uma onça, um gato, um leão... no meio da planície, num laguinho de vidro rodeado de conchas e parasitas, nadavam pequenos patos de celuloide.
No dia vinte e dois, ao acordar, cada um encontrava, debaixo do travesseiro, um pequenino milagre: três avelãs.
No dia vinte e quatro, à tardezinha, Papai e Mamãe mandavam que a gente colocasse nossos sapatos num banco diante do Presépio. E íamos para o quintal. Na sombra da mangueira todos nos sentávamos e Papai abria a História Sagrada (bíblia não, isto era coisa dos crentes). E Papai lia as encantadoras passagens descrevendo como São José e Nossa Senhora foram obrigados por decreto a se dirigir para Belém. E sofríamos juntos a aflição do casal, a gravidez de Nossa Senhora, as pessoas que negavam pouso, as estalagens lotadas... Mas a história acabava bem, Jesus nascia na lapinha, sobre a palha que alimentava os animais.
Papai fechava a História Sagrada e dizia: Agora vocês podem ir ver se o Menino Jesus trouxe alguma coisa para vocês!
Íamos correndo. E todo ano encontrávamos alguma coisinha. Um saquinho com algumas avelãs e nozes, uva passa, figo... Às vezes, uma garrafinha de guaraná. Castanhas, doces... E era Menino Jesus que tinha trazido. Nunca nenhum de nós reparava que, durante a leitura de Papai, sempre dava uma dor de barriga na Mamãe e ela precisava “ir pra dentro um pouquinho”.
Mas nada de Papai Noel, nada de árvore de natal. Isto não era costume católico. Na nossa casa humilde, naqueles dias de final de um ano e começo de outro, imperavam o Presépio e o Menino Jesus.


Texto e foto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes