O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

domingo, 21 de abril de 2024

Faz uma loucura por mim

 


Em 2004 escrevi um conto sobre o lago do Haras, falando do tempo em que ele foi esvaziado, que sumiram as capivaras e tudo ali ficou muito triste. Pois sabe que o meu conto ganhou um belo prêmio na Secretaria de Cultura do Estado? Recebi o meu diploma de participação das mãos da atriz Leona Cavalli, no Memorial da América Latina.

Fiquei meio famosinho lá em São Paulo. E então, a Secretaria de Cultura começou a me convidar para quase todos os eventos que surgiam. E mandou me convidar para a inauguração da biblioteca da Casa das Rosas, na Avenida Paulista. Um lugar maravilhoso de lindo, na avenida mais bonita da capital.

Atendi o telefone dizendo que sim, que eu ia comparecer àquela importante inauguração, ia com minha esposa Anamaria, mas eu queria um momento na programação para declamar. Afinal, numa inauguração de biblioteca, a coisa mais certa do mundo era um poeta declamar o poema O LIVRO E A AMÉRICA, de Castro Alves.

A assessora da Secretaria da Cultura falou que sim, que muito bom eu me dispor a declamar, que ela ia ver um espaço no programa, ia encaixar com certeza, que eu ficasse sossegado.

E, no dia marcado, lá fomos eu e Anamaria, para São Paulo, escutando alguns CDs muitos bons durante a viagem. Alcione e seus grandes sucessos, como FAZ UMA LOUCURA POR MIM e outras músicas, e outros cantores.

Chegando no lugar do evento, nossa, estava tudo lotado. Fomos nos esgueirando no meio do povo, vimos que já estava lá o governador Geraldo Alckmin, o Secretário da Cultura Gabriel Chalita, que tinha sido meu colega na faculdade de direito, e mais um pessoal que eu tinha conhecido na premiação do meu conto. Mas nem deu para chegar perto deles, quanto mais conversar com eles naquela hora.

Alguém avisou, no sistema de som, que todos estavam convidados para circular pelas salas da biblioteca, para conhecer as instalações. Foi o que fizemos. E, nessas voltas, meio espremidinhos no meio das pessoas, nos encontramos com o nosso Geraldinho e pudemos conversar. Dei-lhe um exemplar do meu conto sobre o Haras e ele nos contou que já estava aprovada a verba para reconstruir a barragem que tinha sido rompida. Que era por isso que o lago tinha sido esvaziado. Mais algumas voltas e todos foram chamados para a sala principal, debaixo da escada, para a solenidade.

Aí encontrei a assessora, que veio me pedir muita desculpa e coisa e tal, porque ela já tinha conversado com o gabinete do governador e ele ia ter que sair do evento muito depressa porque tinha outro compromisso em outro lugar etc. etc. e também o Secretário Chalita precisava comparecer em outra reunião em outro bairro e - moral da história - ia ser tudo muito rápido - não ia dar para eu declamar o poema.

As autoridades já tinham começado a falar nos microfones. Tinha começado a solenidade. Fiquei meio desanimadão. Mas Anamaria segurou no meu braço e me falou: - Faz uma loucura por mim. VAI LÁ E DECLAMA.

Então deixei minha pasta com ela e, antes que o governador fosse chamado para falar, atravessei o povo, cabeça erguida, subi o primeiro lance da escada, dobrei o segundo lance, parei, olhei para o público ali embaixo e declarei em alta voz: DE ANTONIO FREDERICO DE CASTRO ALVES: O LIVRO E A AMÉRICA. E comecei: “Talhado para as grandezas, / para crescer, criar, subir / o novo mundo nos músculos / sente a seiva do porvir / ...”

Silêncio absoluto na plateia. O governador quieto, respeitoso, olhando para mim. Todos olhando para mim. Alguém, isolado, bradou: É DO TEATRO. E prossegui, até final. Vibração silenciosa mas perceptível na passagem mais conhecida: Ó bendito o que semeia / livros, livros à mão cheia, / e manda o povo pensar! / O livro, caindo n’alma, / é germe - que faz a palma! / é chuva - que faz o mar!.

Aplausos, muitos, no final. Desço os degraus para ser cumprimentado primeiro pelo governador, que me apresenta à roda dos amigos: “O Paulo é de Pinda! O Paulo é de Pinda!"

E a assessora do gabinete veio, meio risonha, me cumprimentar: Que bom que ainda deu certo, não é?

Participamos do coquetel, bastante conversa, risos, alegria... E depois, eu e Anamaria voltamos pela Dutra, ouvindo música. Música da Alcione, a famosa Marrom.

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