Coroação de Nossa Senhora Aparecida em Coruputuba!
Cerimônia comovente, soleníssima, encerrando as festividades do mês de maio. A
linda e pequena capela, que já tinha ficado lotada nos domingos anteriores,
transbordava de coruputubenses no último domingo. Todas as luzes acesas, o
perfume do incenso flutuando, em transparente névoa azulada. No coro, o maestro
João Antonio Romão tocava o harmônio. Sobre o altar, colocadas numa espécie de
pódium, as Meninas de Coruputuba, vestidas de túnicas brancas, rosas, azuis. No
topo do pódium, a imagem de Nossa Senhora colocada entre duas Meninas: a que ia
fazer o papel principal, de realmente coroar a santa, e a sua, digamos,
ajudante, ou assistente: a que ficava segurando o pratinho com a coroa.
A Menina Principal cantava sozinha um trecho da música,
enquanto colocava a coroa na imagem. Era o momento culminante. O povo prendia a
respiração diante daquele quadro: a Menina Principal cantando sozinha,
acompanhada apenas pelo harmônio.
Todas tinham cantado juntas a primeira parte da música: “Hinos
e flores nesse dia / viemos aqui pra te ofertar / cheias de amor e de alegria /
viemos aqui te coroar”
Então a Menina Principal, como solista, cantava
levantando a coroa: “Aceita ó Mãe esta coroa, em que nos toma o penhor /
daquela que um dia na gloria / nos está guardando / teu amor”
E colocava a coroa na cabeça da imagem, enquanto as
outras Meninas cantavam: “Nós somos filhas tão amadas / da pura mãe do Redentor
/ quem poderá conter a chama / quando no peito arde o amor?”
Momentos celestiais, em que as jovens vozes femininas
flutuavam pela capela, junto com o aroma do incenso.
Tudo muito lindo. Só que, para conquistar o papel de
Menina Principal, todo ano acontecia, secretamente, uma guerra cheia de lances
altos e baixos, de segredinhos entre as meninas, entre as catequistas, as moças
do coro, as mães das meninas. Acho que só o padre que não se envolvia. Todas
falavam mal de todas, todas criticavam todas.
Uma vez, minha irmã Auxiliadora, depois de tanta confusão
nos ensaios, tantos boatos sobre a provável vencedora, finalmente foi
escolhida: ela é que ia levantar bem alto a coroa, ela que ia cantar sozinha o
trecho principal da música, ela que ia coroar Nossa Senhora! Isto, para
despeito de todas as amiguinhas e suas famílias. Uma porção de gente começou a
virar a cara.
No sábado, ensaio final. Fui assistir. Estava perfeito.
Minha irmã cantou divinamente. No domingo, ela amanheceu completamente rouca,
até com um pouco de febre. A voz não saía mesmo. Não teve jeito. Quem coroou
foi a Segunda Menina, subitamente promovida a Primeira Menina e solista.
Na segunda-feira minha irmã já estava de novo com a voz
normal.
***
Texto de Paulo Tarcizio da Silva
Marcondes
Foto: Museu Histórico e Pedagógico Dom
Pedro I e Dona Leopoldina. Visível no site da Prefeitura: www.pindamonhangaba.sp.gov.br
no link Centenário de Coruputuba.
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