Nesta cidade de ruas direcionadas para os pontos cardeais, o sol obriga todo mundo a andar numa calçada de manhã e na outra à tarde.
Ao meio dia não tem salvação, todos procuram caminhar na estreita faixa de sombra sob as marquises.
Quando é inverno, o sol passando baixinho no lado norte, as sombras são compridas, faz friozinho mesmo durante o dia, tudo fica colorido, o ar é gostoso de respirar.
Penso nisto enquanto atravesso a Deputado Claro César para buscar do outro lado a calçada com sombra.
Passei por essas ruas quantas vezes? Onde ficaram meus vestígios? Nas vitrines onde, de esguelha e de passagem, eu espiava o meu reflexo de adolescente, preocupado com a aparência?
Sempre lépido e apressado, eu era assim.
Depois, as décadas se acumularam, fui perdendo a leveza da caminhada. Hoje, às vezes, andar é uma tarefa.
Mas, de repente, passando pelas Pernambucanas, ah, levanto a cabeça! Contemplo – entre os perfis da Matriz e do Museu – a Mantiqueira azul por trás do Bosque.
Encho os pulmões: é como se ouvisse o Hino: “Salve ó terra querida...” E vou de cabeça erguida, alargo os passos, mantenho o ritmo. Sou de novo um aluno do ginásio, e estou num desfile, garboso, jovial.
Nem reparo, não ligo. Mas sei que em todas as vitrines, de esguelha, sou olhado por um senhor meio gordinho, cabelos grisalhos, apressadinho.
* * *
Texto de PAULO TARCIZIO DA SILVA MARCONDES
A primeira foto pertence a http://pracamonsenhormarcondes.blogspot.com
A segunda foto pertence ao autor do texto. Ah, mas pode usar, está tão bonita. Só lembrar de dizer que é a Serra da Mantiqueira, vista de Pindamonhangaba.
adorei este senhor meio gordinho e grisalho que te espia.
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