O Doutor Luiz Gonzaga da Silva Marcondes é poeta, promotor público aposentado, professor de direito, declamador e é coruputubense. Hoje mora em Limeira. É o Zaga, meu irmão nascido dois anos antes de mim.
No início da adolescência estávamos interessadíssimos em pintura. Observávamos o lago quando íamos buscar leite na fazenda, olhávamos as nuvens sobre os coqueiros da igreja... e isto nos dava muita vontade de pintar. Mas, de que jeito? A gente não tinha nem lápis de cor...
Acontece que nessa época apareceu em Coruputuba o Seu Arinos, que chegou cheio de novidades. Uma delas foi o Show de Calouros no cinema, aos domingos de manhã (depois da missa, pois faltar à missa era pecado mortal).
No show, quem se apresentasse ganhava uma caixa de lápis de cor, com seis lápis pequenos. Puxa vida, falei para o Zaga, se a gente participasse, ganhava a caixinha e já dava para começar a exercitar os talentos artísticos. Mas quem iria cantar no cinema? Ora, o Zaga decidiu: ele ia. E ia cantar o “Pai Nosso dos Namorados”. Apoiei a decisão, assim eu não ia me expor, mas continuaria tendo participação na sociedade artística. Afinal, a ideia tinha sido minha.
Domingo, o cinema cheio, ele foi chamado, subiu, acertou o tom com o Martins (futuro Coru Boys), foi ao microfone e mandou ver: “Pai nosso que estais no céu, conservai o meu amor, não permiti por favor, entre nós dois um adeus... Afastai os inimigos da minha vida com ela, conservai os olhos dela sempre nos olhos meus. Se acaso não for este o meu destino, por vosso manto divino, dai-me um viver sem ninguém. Para ser infeliz prefiro sentir saudade. Seja feita a vossa vontaAaAaAaaAaade, amém...”
Eu ali na plateia morrendo de vergonha e com medo de que ele desafinasse. Mas foi tudo bem! Palmas para o Zaga! Desceu do palco com a caixinha de lápis de cor, e lá fomos nós dois pintar as maravilhosas paisagens do bairro, nos blocos de rascunho que a gente ganhava da Fábrica de Papel.
O Bosco ficou com inveja (Bosco tem dois anos menos que eu). No domingo seguinte, compareceu ao cinema e se inscreveu para cantar a “Boneca Cobiçada” (Quando eu te conheci, do amor desiludida...).
Chegou o momento esperado: o Seu Arinos chamou o Bosco! Que, em vez de atender à convocação, abaixou-se encolhidinho, passou por baixo dos bancos e fugiu correndo para casa.
O público ficou sem conhecer o talento do Bosco.
Verdade que, décadas mais tarde, ele formou o conjunto Vox Populi junto com o Araújo (Prof. Pardal) e outros amigos e começou a tocar nas igrejas e nas praças. Tocou até na Basílica de Aparecida.
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Foto de Anamaria Jorio
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