Foi com alguns colegas do colegial que fui
aos poucos deixando de me comportar como um bicho do mato. Não aprendi com
todos os colegas, alguns eram tão assustados quanto eu, não podiam ajudar muito,
podiam, quando muito, comentar comigo como o mundo era assustador. Mas quem me
ajudou de verdade, e sem querer, foram os mais saídos.
Louvo as figuras do Welton, do Mineiro, do
Mirinho. Mas, principalmente, do Welton, porque era meu colega de classe na Escola
Normal e eu convivia todos os dias com ele. O Mineiro e o Mirinho contavam com
minha admiração mais distante, eram monstros sagrados que perambulavam pelos
corredores do Instituto, junto com meu irmão Zaga, bradando palavras secretas
extraídas do fundo dos dicionários – ou lendo poemas cabalísticos em voz
sussurrada. Mas o Welton estava ali na classe, perto de mim, e eu fui um
aplicado observador do seu comportamento, para ir aprendendo a como deveria
agir no mundo da cidade.
Fui me admirando e aprendendo, naquele
universo de jovens entre dezessete e vinte anos. Welton, sempre ajeitando os
óculos que teimavam em cair, conversava com os adultos de igual para igual, com
urbanidade e bom humor, cumprimentava pegando na mão, olho no olho. Tinha
sempre um gracejo e uma palavra boa para todos. Não se acanhava com ninguém,
não desrespeitava ninguém. Tinha pronta argumentação diante de professores e
funcionários, se fosse preciso defender um ponto de vista.
Todos estudávamos de manhã e trabalhávamos à
tarde. Eu, no Sindicato Rural, em cima da antiga leiteria – onde hoje é a
imobiliária do Derrico. Welton trabalhava na Tribuna do Norte, ajudando o pai,
o Seu Argemiro. Aos sábados, convidado, eu ia à Tribuna ajudar em alguma
coisinha. Cheguei a rodar a prensa. Aproveitei a minha proximidade para
apresentar ao Seu Argemiro os meus poemas – e ele aceitou. Estão lá, nas
edições de 1967, muitos dos meus sonetos.
Fui crescendo como estudante, aprendendo que
não precisava me afastar dos colegas para com isto agradar aos professores.
Dava para agradar aos dois públicos, mantendo-me cordial com todos – isto
aprendia com o Welton. Depois vi que esses moradores da cidade – Welton,
Mirinho, Mineiro e outros – eram bons também nas coisas nossas da roça, nas
atividades que eu e meus irmãos desenvolvíamos em casa, no quintal, no mato.
Eles foram nos visitar em Coruputuba e nós ficamos esmagados com o desempenho
do Mirinho na bolinha de gude! Depois, durante o futebol debaixo das
mangueiras, deram um completo baile em nós, os donos do campinho!
E de repente todo mundo cresceu e os adultos
faleceram e todo mundo se separou e a gente ficou quase que sem se encontrar de
novo, fomos virando uns estranhos uns para os outros. Cada um foi trabalhar
para um lado, para cidades distantes. O Zaga, o Mineiro, o Welton, o Mirinho...
Eu também, mudei de Pinda, demorei para voltar. Foi ficando difícil a gente se
reencontrar. Mas as raízes que cada um de nós plantou no outro viraram
referência, viraram instrução sobre como nos comportarmos diante do mundo,
mesmo na distância, mesmo na ausência dos nossos companheiros.
E o mundo perdeu para mim uma parte de sua
graça quando o Welton se foi. Ele, que sem saber, tinha me ensinado a me portar
sem medo diante da Cidade.
* *
*
Texto de Paulo Tarcizio da Silva
Marcondes
Foto do I.E. João Gomes de Araújo:
Arquivo Histórico Waldomiro Benedito de Abreu
NOSSA....me emocionei e chorei.....
ResponderExcluirÉ bom saber que não estou sózinha nesta fase da vida quando os amigos de infância começam a partir....obrigada Paulo por este texto "tão pedaço de vida".......ocasião que infelizmente há de chegar um dia para todos que têm amigos ....pedaço de vida cruel,doloroso,mas,de ótimas lembranças....abraço Paulo......
Obrigada por homenagear essa pessoa ímpar que foi o Sr. Welton...
ResponderExcluirLindo texto!
Arrancou lágrimas aqui também fazendo lembrar dele!
Deixou saudades,
mas também deixou aqui, uma família maravilhosa... ímpar assim como ele, da qual me orgulho muito de ser amiga!
Abraços!
Valéria Cesar
Dr. Welton sempre foi um bom amigo, profissional exemplar, homem de palavras diretas e francas, não era de fazer rodeios. Um homem cheio de vida e disposto a ajudar quem necessitava. Era ambicioso para buscar felicidade em seu lar e para com seus amigos. Tive o prazer e a honra de ser um frequentador das suas festas particulares, foram momentos inesquecíveis que jamais se apagarão da minha memória. A família que ele nos deixou são exemplos de virtude, amizade e garra. Parabéns pelas merecidas palavras...
ResponderExcluirAbraços.
Dr. Welton sempre foi um bom amigo, profissional exemplar, homem de palavras diretas e francas, não era de fazer rodeios. Um homem cheio de vida e disposto a ajudar quem necessitava. Era ambicioso para buscar felicidade em seu lar e para com seus amigos. Tive o prazer e a honra de ser um frequentador das suas festas particulares, foram momentos inesquecíveis que jamais se apagarão da minha memória. A família que ele nos deixou são exemplos de virtude, amizade e garra. Parabéns pelas merecidas palavras...
ResponderExcluirAbraços.
Carlos Alberto Lopes