Tudo novo,
para as crianças do primeiro ano. Desde o cheirinho da caixa de lápis de cor
até o alvoroço de alunos e mães... Parecia um comício, uma quermesse... A
menina esperava. Coisas iam acontecer. Alguém fazia uma chamada em voz muito
alta e havia muita ansiedade no galpão da escola. Parece que chamaram seu nome
e ela foi puxada pela mão até a frente da fila dupla de crianças que, como ela,
esperavam...
Aos poucos o
caos foi sendo organizado. As mães ficaram separadas de um lado, junto à
cozinha, e dali espiavam, olhos compridos. As crianças nas filas, as filas bem
retinhas... A menina, por ser a menorzinha, na frente de todos.
As
professoras foram aparecendo e ninguém precisava contar que elas eram as
professoras. Aquelas senhoras majestosas vinham andando devagar pelo galpão,
olhando, inspecionando, e cada uma finalmente se colocou diante da fila de sua
classe: agora as crianças já tinham dono. A menina olhava com orgulho a sua
professora.
Grande,
alta, imponente. Segurava cadernos e listas. O olhar dela descia sobre a fila e
todos ficavam quietinhos, muito quietinhos. A professora olhava para baixo,
para as crianças. As crianças olhavam para cima, para a professora,
esperando...
Então
aconteceu uma coisa. A professora prestou atenção na menina. Olhou, depois
olhou de novo e ficou parada olhando atenta. Segurou no seu queixinho,
reparando bem: “Você não é irmã do José Carlos?”
Que orgulho!
Ser reconhecida no primeiro dia de aula! Na frente de todas as crianças. Só
ela! Aquela professora grande, uma senhora! Reconhecê-la, falar com ela, em
casa ia contar para todos. E falou, sorrindo aberto: “Eu sou!”
A professora
largou de repente o seu queixinho, afastou-se um passo, olhou em torno como
quem se perdeu. Gritou para a outra professora: “Fulana, olha o que eu peguei:
a irmã do Zé Carlos! Pelo amor de Deus, eu mereço! Esse diretor quer acabar
comigo, só o que faltava: me dar a irmã do Zé Carlos...”
Na frente de
todos, a menina queria chorar, queria a mãe, olhava para o chão, não queria
mais olhar a professora, não queria mais escola, não queria mais...
– Vamos,
vamos! Quietinhos! Aí, olha para frente! Ô meu Deus!
A fila
acompanhou a professora e a menina foi a primeira a entrar na sala de aula, mas
não lhe parecia que ela estivesse puxando uma fila. Parecia que a fila a estava
empurrando e ela tinha que entrar num lugar onde não desejava entrar.
Ficou com
vergonha de ser irmã do José Carlos... E ela que achava o irmão tão bonzinho...
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Do livro “Aconteceu na Escola”
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