Na
passagem dos cinquenta anos do golpe militar de 64, já tem uns bobinhos (que
não sofreram aqueles dias), encantados com fardas e armas, tentando RELATIVIZAR
a Democracia. Mais ou menos assim: "A democracia tem que ter
limites", "Democracia sim, mas nem tanto", "Tem que ter
muita responsabilidade, democracia só não basta", "Democracia sim,
mas com equilíbrio" e outras frases hitlerianas e mussolinianas. Essas
bobeiras me dão medo. São bobeiras que, de tanto serem repetidas, vão se
entranhando nos vãos dos miolos de pessoinhas mais bobas ainda. Ora essa! Tem
que haver DEMOCRACIA. Ponto final. Democracia sem adjetivo. A história
demonstra (e eu vivi isto nas décadas de 60-70-80) que isto de ter
"equilíbrio na democracia" significa misturar um montão de arbítrio
com uma pitadinha de democracia, dando naquela merda que, anos depois, temos
coragem de chamar pelo nome verdadeiro: ditadura, com todos os seus horrores.
O MONSTRO
Disseram que
ele nunca mais viria
mas se o
monstro voltar aqui um dia
alguns o
abrigarão em seu partido
outros se
calarão sem um gemido
alguns
entregarão o pai e o irmão
outros vão se
erguer diante do dragão
alguns vão
bater palmas comovidos
outros vão
virar “desaparecidos”
alguns vão
ponderar em seus jornais
outros
ficarão com o pé atrás
alguns
elogiarão suas medidas
outros vão
panfletar às escondidas
(depois serão
dados por suicidas)
alguns
dormirão com o inimigo
com a
intenção de proteger o amigo
outros vão
trocar de identidade
e ocultos
falarão de liberdade
alguns se
venderão por seu dinheiro
outros
fugirão para o estrangeiro
alguns se
enquadrarão em continência
outros vão
pregar a desobediência
alguns vão
cochichar pelas esquinas
outros
montarão rádios clandestinas
alguns
discutirão com alegria
outros nunca
mais andarão de dia
alguns que
ambicionavam ser eleitos
vão virar
senadores ou prefeitos
outros,
conforme as únicas notícias,
vão morrer
“em confronto com a polícia”
alguns
armarão falsas eleições
outros farão
denúncias nas canções
alguns
ganharão cargos de presente
outros serão
cassados de repente
alguns se
esconderão em sua terra
outros irão
se declarar em guerra
alguns farão
poemas de protesto
outros
morrerão no final de um gesto
alguns
subirão por caminhos tortos
outros
lembrarão os presos e os mortos:
isso se por
desgraça retornar
o monstro que
não ia mais voltar.
*****
Texto de Paulo
Tarcizio da Silva Marcondes
Livro “Terra
Vegetal”
Editora
Scortecci
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