Em 1960 eu estudava neste prédio onde agora trabalho, o Palacete Visconde da Palmeira, ou seja: o Museu. Estava cursando a primeira série do ginásio. Meu irmão Zaga estava na segunda. Tinha vez que a gente chegava de Coruputuba e ficava sabendo que não ia ter aula, ou a aula ia começar mais tarde.Então a gente descia para o Bosque, que era cercado por um muro todo arrebentado. Entre o Bosque e o Paraíba havia uma rua. Quer dizer, era uma estradinha. E o gostoso mesmo era sentar no barranco e ficar olhando o rio, vendo as coisas que aconteciam.
Passava uma barcaça carregada de areia, comandada por dois camaradas munidos de longas varas que cutucavam o fundo do rio. Nada de remo. A gente via que os homens estavam fazendo um baita esforço.
Um pescador numa canoinha, do lado de cá. De repente, dava na telha dele de atravessar o rio, ir pescar lá na “ilha”. Então ele ia subindo o rio, beirando o capim, aproveitando que na margem a correnteza corre para cima. Quando já tinha se distanciado bastante, aí sim ele punha a embarcação no meio do rio. Ia atravessando enviesado e chegava do outro lado num ponto muito abaixo de onde tinha começado.
E recomeçava a pescar.
Alguns bois vinham sendo tocados por um cavaleiro, com destino ao matadouro, que ficava onde hoje é o DOV. Um dos bois se espantou e pulou no Paraíba. Saiu nadando lindamente, rio abaixo, quase todo afundado. Só apareciam os chifres, os olhos e as narinas muito abertas.
Aí a gente levantava e subia a ladeira, estava na hora de começar a aula, ou de irmos embora para casa no ônibus do Seu Ciro Valentini.
Mas até mesmo nos dias de aula normal eu olhava para o rio, lá de cima, pela janela da biblioteca. Estavam retificando o traçado, grandes máquinas trabalhavam o dia todo, escavando, escavando. Tiraram as curvas, o rio ficou mais rápido, diminuíram as cheias. Mais tarde, nos anos setenta, com a construção das barragens de Santa Branca, Paraibuna e Igaratá, daí que desapareceram mesmo as grandes cheias.
Da retificação sobraram uns braços mortos do rio, em forma de grandes meias-luas. É o Paraíba-Velho, dizíamos. Trechos parados de um rio outrora cheio de meandros. É onde dormem as garças.
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Texto de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Fotos:
1- Arquivo Histórico Dr. Waldomiro Benedito de Abreu - Pindamonhangaba - SP
2- Google Earth
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1- Arquivo Histórico Dr. Waldomiro Benedito de Abreu - Pindamonhangaba - SP
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