Nos anos do “ginásio”, como se dizia
antigamente (hoje seriam as quatro últimas séries do Fundamental), sofri com a
Matemática. Não entendia as lições, e ficava indignado com isto, porque no
curso primário tinha ido muito bem nessa matéria. Acontece que estavam sendo
apresentadas a mim a aos meus colegas uma série de equações, inequações,
teoremas e regras: era a álgebra. No primário tinha sido somente a aritmética.
Durante três anos tive aulas com um professor
que certamente sabia muito da matéria, mas nada conhecia sobre a arte de
ensinar. Ditava exercícios, mandava resolver as questões do livro, corrigia,
dava notas baixas. Mas dava notas altas quando o time dele ganhava – e,
infelizmente, ele torcia para um time muito fraco. Também dava notas altas
quando, por ocasião do aniversário dele, a gente fazia uma festinha com bolo,
refrigerante, parabéns...
No início de nosso último ano do ginásio,
apareceu um novo professor, que certamente também sabia a matéria, mas não nos
ensinava direito. Um dia, diante de um exercício complicado, disse a ele: “ –
Professor, não entendi o exercício!” Ao que ele, sorrindo, me respondeu: “ –
Não é para entender mesmo...”
Depois das férias de julho, trocou de novo de
professor. Agora, era o Professor Oswaldo Collus. Na primeira aula, ele nos
perguntou sobre nossas dificuldades. Quase todos falaram sobre o Teorema de
Pitágoras. Porque vivíamos repetindo uma frase que parecia uma reza, um mantra,
que não entendíamos, mas sabíamos de cor: “O quadrado da hipotenusa é igual à
soma dos quadrados dos catetos”. Ou, na versão reduzida, “a²=b²+c²”.
O Professor nos disse: “É simples”. Foi à
lousa, com o giz desenhou um triângulo retângulo com catetos medindo 3 e 4, e
com hipotenusa medindo 5. Traçou um quadrado a partir do cateto menor (3X3=9);
um quadrado a partir do cateto maior (4X4=16) e, finalmente, um quadrado a
partir da hipotenusa (5X5=25). E nos disse: “O quadrado da hipotenusa (no caso,
25) é igual à soma do quadrado dos catetos (no caso, 9+16).
A classe inteira, em uníssono, soltou um
“Ah!!!...” Hoje, eu sei que aquela exclamação era um misto de surpresa e de
revolta. Surpresa, com a simplicidade do bendito teorema. Revolta, com o fato
de termos sido durante tanto tempo submetidos a uma Matemática feita de frases
cabalísticas, que não tinham correspondência com o mundo real.
A partir daí, a classe inteira se deu bem com
a Matemática, explicada de maneira tão singela. Aprendi a fazer cálculos sempre
através de desenhos. Mais tarde, já lecionando, procurei facilitar a
compreensão dos meus alunos através de demonstrações gráficas. E nunca me
esqueço de como isto começou, nunca me esqueço de quem fez com que eu passasse
a gostar de fato da Matemática.
Professor Oswaldo Collus: um mestre de
profunda sabedoria – e de persistente gentileza para com seus discípulos.
* * *
Texto
de Paulo Tarcizio da Silva Marcondes
Desenho
de Pitágoras de Samos
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