O LAGO DE CORUPUTUBA

A foto acima obtive em 1967 com a minha antiga Bieka. É o lago da Fazenda Coruputuba, em Pindamonhangaba.

segunda-feira, 12 de julho de 2021

O QUE MOVE O ARTISTA

Primeiro rascunho


Óleo sobre tela. O caminho sob os eucaliptos. Fazer e refazer várias vezes, sem desespero, mas com certo nível de exigência, buscando alguma identificação com o modelo.

Até que chega o momento em que a gente se sente atingido pela fagulha, pela centelha. Quando? É no instante da pincelada que, subitamente, define as distâncias, jogando alguns elementos lá para longe, onde mal podem ser vistos. E trazendo outros elementos para perto, aqui, na cara da gente.

Lembrando que tudo é uma suave tapeação. Estamos pintando numa tela plana, mas devemos dar ao expectador a impressão de profundidade e de volume. Parecendo que o prédio da Cooperativa está lá longe e que há uma árvore grossa aqui pertinho. Isto a gente faz com as tonalidades das cores. O que está longe ganha cores desmaiadas e contorno impreciso. O que está perto recebe contorno bem definido e cores fortes. Isto é a perspectiva aérea.

Outra coisa: são três montinhos de folhas secas, que os homens do Seu Alcindo varreram e juntaram para queimar, porque é sábado. Os montinhos são todos do mesmo tamanho. Mas o que está lá longe eu desenhei bem menor que o montinho mais próximo. Isto se chama perspectiva linear.

Neste quadro eu ouço o vento leve. Ouço a fala inocente da menina de vermelho. Sinto o amor que ela tem pela mãe, pois inclina a cabecinha em direção a ela. A gente se inclina para perto de quem a gente ama.

Adivinho a existência do lago à esquerda, abaixo dos eucaliptos, pois percebo que eles estão plantados num declive que vai baixando em direção às casas da Vila Tanque. E percebo a claridade entre essas árvores, é onde fica o lago, que não vejo. E sei que à direita do quadro, fora dele, há um grande descampado. Quem me conta isto é o eucalipto que cresceu inclinado, buscando a luminosidade do campo de futebol. As árvores também se inclinam para o que elas amam, e elas amam o sol.

Todo artista desenvolve seu trabalho sobre as coisas que ama. Seja para escrever, pintar, fotografar, esculpir, dançar, declamar, cantar, representar...

O que move o artista é o amor.



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